I SÉRIE — NÚMERO 81
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O Sr. Primeiro-Ministro: — … porque, há dois anos, o défice era de 10% e o défice da conta corrente
também era praticamente de 10%,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — E agora estamos muito melhor!…
O Sr. Primeiro-Ministro: — … o que queria dizer que o País, se se mantivesse essa perspetiva,
continuaria a endividar-se, pelo menos, à razão de 10%/ano na sua economia e que o Estado também
continuaria a endividar-se à razão de 10%/ano. Ora, essa situação era insustentável e não é a que se verifica
hoje.
Obtivemos, como já aqui tive ocasião de dizer e, portanto, não vou ocupar muito tempo a explicar, um
processo de consolidação orçamental efetivo, porque o nosso défice reduziu, nestes dois anos, em termos
nominais, mas também reduziu — e isto ainda é mais importante — do ponto de vista estrutural de tal maneira
que, se não contássemos os juros da dívida pública, já teríamos um excedente.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Tivemos, portanto, um excedente estrutural primário, o que compara com a
situação de um défice estrutural de quase 9% há dois anos. Como é que se pode comparar a situação de há
dois anos com a situação de hoje?!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Está pior!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Ora, como é evidente, a situação não tem o mesmo desespero. Mas, com o
Sr. Deputado referiu, não é uma situação isenta de riscos. Não estamos numa situação confortável de dizer
«não voltaremos para trás, não teremos nenhuma possibilidade de regressão», porque essa possibilidade foi,
de alguma maneira, formulada no condicionamento de políticas que o Estado tem de prosseguir para efetivar a
consolidação.
Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, os nossos parceiros deram-nos um voto de confiança, acreditaram que
éramos capazes de ultrapassar este problema. E quero dizer, em particular, que esse foi o caso não apenas
dos nossos vizinhos europeus, que através dos seus Ministros das Finanças se comprometeram com a
extensão das maturidades, em Dublin, mas também da Alemanha, que teve de aprovar, por via constitucional,
essa decisão no seu Parlamento.
Protestos do Deputado do PCP Bernardino Soares.
Portanto, a Alemanha, no que respeita à Irlanda e a Portugal, ratificou essa decisão, aprovou essa decisão
no seu Parlamento, para que o Governo alemão também se juntasse a todos os outros, dando a Portugal esta
oportunidade de cumprir. Está, pois, nas nossas mãos agora controlar estes riscos de execução para entregar,
no fim, um bom resultado.
Evidentemente, é isso que esperam os nossos parceiros europeus e os nossos credores, mas sobretudo, é
isso que esperam os portugueses.
Para finalizar, Sr.ª Presidente, e esta é a dimensão mais importante que queria aqui expressar, remato
dizendo que o Governo, na sua organização, pode fazer mais Conselhos de Ministros extraordinários, setoriais
ou não — essa é uma matéria de organização interna que não tem tanta relevância quanto isso —, mas o que
importa é que as decisões apareçam, e apareçam de uma forma pluridisciplinar, envolvendo todo o Governo.
Isto, sim, é que é importante.
A Sr.ª Presidente: — Queira fazer o favor de terminar, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Se não tivéssemos de oferecer essa segurança aos portugueses, de que tudo
faremos para cumprir as nossas metas e honrar os nossos compromissos, aí é que a incerteza seria