26 DE ABRIL DE 2013
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desemprego, pelo menos, exigia-se do Governo um programa não só mais articulado, mais coerente, mais
consistente, mais concreto, mas, sobretudo, com uma calendarização com vista a promover a atividade
produtiva.
Afinal, o que saiu do Conselho de Ministros foi um rol de objetivos que acaba por reduzir o designado
«memorando de crescimento e de emprego» a uma espécie de repetição, agora conjunta, de medidas que há
muito havia sido prometidas pelo Governo. Estou a referir-me ao banco de fomento, à redução do IVA para
favorecer o investimento ou, ainda, àquilo que o Governo há muito anda a prometer, mas que, na verdade,
nada fez até agora, que tem a ver com o crédito facilitado às pequenas e médias empresas.
Portanto, o Governo andou dois anos sem criar quaisquer estímulos ao investimento, a ignorar a agonia em
que vivem as pequenas e médias empresas e a semear desemprego. Agora, apresenta aquilo a que chama
«memorando», no qual as raras medidas de financiamento que estão quantificadas contêm montantes
objetivamente insuficientes, no qual o banco de fomento continua a ser uma promessa — pelos vistos, é só
para o próximo ano! — e o apoio à inovação mostra-se completamente incompatível com os cortes e as
orientações que estão a nortear a política para a ciência e para a investigação. Aliás, a única boa notícia deste
dito «memorando» é apenas o reconhecimento, por parte do Governo, do completo falhanço das políticas que
tem vindo a prosseguir. Quanto ao resto, pouco ou nada de novo.
O Sr. Deputado Paulo Batista Santos sublinhou a importância das pequenas e médias empresas e eu
queria recordar-lhe que o Governo já gastou quase metade dos 12 000 milhões de euros disponíveis na
recapitalização da banca.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Ora, esses milhões injetados na banca — estamos a falar de
cerca de 6000 milhões de euros — não se fizeram sentir no crédito concedido às empresas, a economia não
sentiu quaisquer reflexos desses milhões de euros disponibilizados à banca.
Seria, pois, de esperar que o Governo aproveitasse, pelo menos agora, esse dito «memorando de
crescimento e de emprego» para obrigar os bancos que receberam as ajudas do Estado a estabelecer metas
quantitativas de apoio às pequenas e médias empresas.
Queria perguntar se não lhe pareceria justo que o Governo, à semelhança daquilo que pretende fazer com
a Caixa Geral de Depósitos, fizesse o mesmo com os bancos que receberam ajudas do Estado. Não era justo
que os bancos que receberam ajudas do Estado estabelecessem metas quantitativas de apoio às pequenas e
médias empresas?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília
Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Paulo Batista Santos, queria cumprimentá-lo
pela sua intervenção e perguntar-lhe como é que justifica que um Governo agarrado fanaticamente ao
Memorando da troica, ao memorando da recessão e do desemprego, venha, dois anos depois, falar de um
outro memorando, que é o memorando do crescimento, como lhe chamam. Porventura, até se poderia pensar
que a maioria tem dois amores: num dia é crescimento, noutro dia é desemprego.
Mas a verdade não é essa. A verdade é que, quando os senhores vêm, dois anos depois, falar de
crescimento, as propostas que têm para o País são propostas de recessão; quando vêm falar de emprego,
aquilo a que assistimos é a níveis dramáticos de desemprego, como nunca antes foram conhecidos, aliados a
uma política de ataque aos salários.
Por isso, queria perguntar-lhe, Sr. Deputado, se é ironia este plano. Como é que o Governo e a maioria
querem que o País acredite nestas novas intenções, depois de, durante dois anos, os senhores terem
propagado fanaticamente as grandes verdades da troica? Lembra-se quais eram? Era reduzir o défice, era
reduzir a dívida, era aumentar o emprego. Nada disto aconteceu! A situação do País é aquela que se conhece,
com as vossas verdades, que eram verdades absolutas!