I SÉRIE — NÚMERO 88
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conciliar tudo o que é proposta de reforma estrutural, que tem reflexo a médio prazo na economia, com o
lançamento de novas condições de financiamento à economia que sustentem o crescimento e o emprego.
Estamos, portanto, como consta, de resto, do Documento de Estratégia Orçamental que o Governo
apresentou ao Parlamento, numa altura em que podemos dizer que os desequilíbrios mais graves foram
razoavelmente corrigidos com destaque para o desequilíbrio externo, pois, ao contrário das previsões iniciais,
a realidade mostrou-se mais favorável neste aspeto e permitiu-nos concluir o ano de 2012, como já é público,
com uma posição líquida excedentária sobre o exterior, o que é um marco histórico em Portugal que não se
deve apenas à contração da procura interna mas também ao aumento das exportações. Tivemos também, em
consequência do resultado do ajustamento orçamental, uma redução superior a seis pontos percentuais do
défice estrutural, o que é, realmente, em condições como as que vivemos de recessão económica, um
resultado notável.
Temos, portanto, agora de procurar lançar as bases do crescimento, na medida em que os principais
desequilíbrios foram sendo corrigidos, em que temos hoje um setor financeiro que está em melhores
condições de resiliência para poder financiar a economia, em que se apresenta o quadro, até 2020, de
financiamento europeu que pode dar um contributo decisivo para o investimento em Portugal, em particular
para as pequenas e médias empresas, e em que concluímos uma primeira fase de trajetória de reconquista de
confiança junto dos investidores que nos permitiu, ainda esta semana, fazer uma emissão a um pouco mais de
10 anos, que era a emissão que nos faltava para regularizar a nossa curva de rendimentos.
Sabemos, evidentemente, que este resultado não é, só por si, durável, sabemos que o facto de termos feito
uma emissão bem-sucedida a um pouco mais de 10 anos não é garantia plena…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — A uma «bela» taxa de juro!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … de que Portugal possa regularizar o seu financiamento em mercado, mas é
uma condição necessária e, dentro dessa condição, o regresso de vários investidores ao mercado da dívida
portuguesa é um sinal encorajador que, do meu ponto de vista, merece ser realçado, na medida em que ele
não teria sido possível sem a forma como os portugueses durante praticamente estes dois anos do período de
ajustamento levaram, com grande sacrifício, os efeitos das políticas corretoras necessárias.
Ora, estamos nesta fase a fechar este primeiro ciclo em que queremos dizer aos portugueses que estamos
mais perto do ponto de não retorno à situação de maio de 2011, mas em que precisamos também de pensar
no nosso futuro para além da situação que representa o fecho desse período de ajustamento mais difícil com a
conclusão do programa de assistência económica e financeira.
Apresentámos aos parceiros sociais e aos partidos políticos uma estratégia de crescimento para o emprego
e reforço do nosso tecido produtivo, sendo que, a partir de hoje à tarde, o Governo irá conversar e,
evidentemente, procurar obter da parte dos partidos políticos propostas e visões complementares que possam
beneficiar essa estratégia de crescimento.
Sabemos que podemos ter visões distintas sobre a forma de lançar a infraestrutura de crescimento da
economia, mas o Governo não pode deixar de cumprir a sua obrigação de promover esse debate da forma
mais aberta possível, envolvendo todos e mostrando efetiva abertura para incorporar outras ideias e outras
propostas que possam melhorar essa estratégia de crescimento.
Iremos também na próxima semana, terça-feira, assistir à apresentação do relatório da OCDE sobre
reforma estrutural e reforma do Estado em Portugal, orientada para o crescimento e o emprego.
Em dezembro do ano passado, anunciei que tínhamos solicitado à OCDE, a que pertencemos, a produção
de um relatório sobre a reforma do Estado, em Portugal. Esse relatório está pronto e será apresentado de
forma internacional na próxima terça-feira, em Paris.
A Sr.ª Presidente: — Pedia-lhe que terminasse, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
No âmbito desse relatório, não deixaremos de incorporar todos os elementos que forem relevantes no
guião sobre a reforma do Estado, que será também apresentado aos portugueses e aos partidos políticos.