18 DE MAIO DE 2013
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A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Não tem razão a Sr.ª
Deputada Carla Rodrigues quando diz que não houve evolução no debate. A Sr.ª Deputada esteve aqui há
pouco mais de um ano e ouviu, na altura, o mesmo que eu ouvi.
Sr.ª Deputada, quero dizer-lhe que estou absolutamente feliz, apesar de tudo, por não ter ouvido aqui, em
termos de argumentação do PSD e do CDS, expressões como «isso é contranatura», «há modelos familiares
únicos», como ouvimos há um ano. Os senhores leram as atas.
Protestos do PSD.
Significa isto, Sr.as
e Srs. Deputados, que, pelo menos, em termos de modelo da argumentação, houve
alteração, e isto não é de somenos importância. É porque os Srs. Deputados se envergonharam, passado um
ano, de utilizar argumentos como «isso é contranatura» ou «há modelos familiares únicos». Isto é um sinal,
Sr.as
e Srs. Deputados! Estes projetos, mais tarde ou mais cedo, com a evolução da argumentação e da
reflexão, serão aprovados.
Diz a Sr.ª Deputada: «A adoção foi criada para as crianças.» — pois claro que foi!, é justamente a pensar
nas crianças que estamos a apresentar estes projetos — «Porque a adoção singular é possível, porque a
adoção por casais heterossexuais é possível…, mas não para todos! Era o que mais faltava, porque, se
atendermos ao superior interesse da criança, só os casais com condições para darem afeto, amor e educação
é que podem adotar!» Mas, em relação aos casais homossexuais, é exatamente a mesma coisa! Há casais
heterossexuais e homossexuais estruturados que devem poder adotar! Os que não têm essas condições não
devem poder adotar! Porquê? Porque estamos a pensar no superior interesse da criança!
Mesmo a finalizar, porque há pouco não expressei a nossa posição relativamente ao projeto apresentado
por alguns Srs. Deputados do PS, queria dizer que vamos, obviamente, votar a favor da coadoção.
Se uma criança é filha ou filho de um membro de um casal que vive essa realidade, se essa é a sua
realidade, se essa é a sua felicidade, por que carga de água há de a sociedade dizer-lhe: «Essa é a tua
realidade, mas no papel, minha querida, não, a realidade é aquela que a sociedade impõe. E o outro membro
do casal que vês como pai ou como mãe não será, no papel, teu pai ou tua mãe».
Isto não pode ser! Então, o interesse da criança, Sr.as
e Srs. Deputados?
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Delgado Alves para uma intervenção.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Agora, que nos aproximamos
da reta final deste debate, penso que é importante debatermos o que está em discussão hoje, na Câmara, nas
várias intervenções e nos vários projetos.
Naturalmente, na perspetiva dos subscritores do projeto de lei do PS, idealmente e porque acreditamos
nisso, o problema que temos resolver-se-ia com a consagração plena da adoção. Não temos dúvidas quanto a
esta matéria.
Contudo, há uma urgência especial que nos mobiliza para o debate hoje. E a urgência especial é a das
famílias que existem, das famílias que hoje têm as suas crianças na escola, das famílias que hoje têm que
contatar o Serviço Nacional de Saúde, das famílias que hoje ou amanhã poderão ser atingidas por um
infortúnio, ficando os seus menores desprotegidos.
É esta urgência a que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos deu uma resposta dizendo que, apesar de
todos os dados, apesar de o próprio Tribunal ter sido cauteloso na sua decisão,…
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — … aqui, há uma situação diferente, uma situação de urgência. Uma
situação de urgência em relação à qual a Áustria não foi capaz de demonstrar argumentos para continuar a
manter o acesso à coadoção vedado.
E há muitos Estados que têm esta solução, não estamos a inventar uma solução para furtar a lei, para
frustrar a lei ou para enganar a lei; são vários os Estados que não admitem a adoção por um casal, mas que
permitem a coadoção. É apenas isto, neste momento, embora estejamos cientes de que o debate tem que