I SÉRIE — NÚMERO 94
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O que isto significa, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, ao contrário do que dizia há pouco o Sr. Deputado
António José Seguro, é que o Governo está a procurar conjugar três aspetos, que estão, de resto, bem
descritos na estratégia para o crescimento.
O primeiro aspeto é o efeito de médio e de longo prazo de várias medidas de natureza estrutural que têm
vindo a ser adotadas. Não estão completas, falta ainda o regime do licenciamento como grande medida a
completar todas aquelas que já foram tomadas ao nível da concorrência, ao nível do mercado laboral, ao nível
da justiça, e por aí fora.
Em segundo lugar, o Governo procura encontrar nos mecanismos de financiamento formas consistentes de
melhorar a posição das pequenas e médias empresas, sobretudo quando orientadas para a produção de bens
e serviços transacionáveis, mas, de um modo geral, pequenas e médias empresas e setor transacionável.
Esta é uma estratégia que visa aumentar ainda mais o grau de abertura da economia portuguesa, colocar o
nível das exportações numa posição ainda mais liderante do que aquele que deverá ter desempenhado ao
longo destes últimos anos e garantir, portanto, que empresas que têm estruturas financeiras muito pouco
resilientes possam resistir melhor quer aos períodos de recessão quer, evidentemente, ao período que
estamos a viver, de maior escassez de financiamento.
Isso passa por medidas de natureza temporária e conjuntural como estas que foram anunciadas, que são,
no entanto, de um fôlego importante, na medida em que podem permitir uma viragem da tendência económica.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isso já é propaganda!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas elas devem ser combinadas com medidas mais estruturantes, como
aquelas de que estamos à procura, nomeadamente no que concerne à instituição especializada de fomento
voltada para estas matérias, à carta de missão que vamos divulgar sobre a Caixa Geral de Depósitos, para a
possibilidade, que esperamos vir a discutir muito brevemente no Parlamento, de se encontrar uma reforma do
IRC que permita dar mais competitividade fiscal em Portugal para o investimento que sustente o crescimento e
que sustente a geração de emprego.
Em simultâneo, procuraremos, assim que este período de ajustamento mais severo esteja fechado e
cumprido, poder fazer uma reforma fiscal ainda mais alargada, que substitua impostos que hoje incidem
demasiado sobre o trabalho, por impostos que possam estar mais voltados para a chamada economia verde e,
portanto, para sustentarem um crescimento que seja ambientalmente mais consistente.
Sr. Deputado, esta é a estratégia.
Para responder de uma forma sucinta, quero dizer que estamos a combinar medidas de caráter temporário
com medidas de caráter estrutural, porque precisamos de viver e de fazer com que as nossas empresas vivam
e sobrevivam, enquanto medidas de caráter mais profundo e estrutural de médio e de longo prazo não têm o
seu pleno funcionamento.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, registo que o senhor não disse
nem uma palavra sobre o mercado interno, sobre a capacidade de consumo das pessoas, mas, enfim…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Primeiro-Ministro, passaria a uma segunda questão, que
consideramos relevante e que era importante que o Sr. Primeiro-Ministro esclarecesse: no quadro de uma
ofensiva tremenda contra os trabalhadores, designadamente da Administração Pública, e contra os
reformados e os pensionistas, para além do anúncio, esta semana, do aumento do desconto para a ADSE,
têm vindo notícias a público de que os reformados e os pensionistas vão sofrer um corte de 10% na sua
reforma e nas suas pensões. Isso lançou a insegurança, a preocupação, a confusão…