I SÉRIE — NÚMERO 114
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O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — A pergunta fica feita: a que País é que o Sr. Primeiro-Ministro se
estava a referir quando falou há pouco na tribuna? Qual era o País a que o Sr. Primeiro-Ministro se estava a
referir?
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Muito bem!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — O Sr. Primeiro-Ministro fala dos sucessos da política do Governo,
mas a verdade é que a situação agrava-se e continua a agravar-se de dia para dia, a cada dia que passa. E o
mais grave não é perceber que hoje é pior do que ontem, o mais grave é termos a perceção de que amanhã
será pior do que hoje.
Portanto, depois de o ouvir, fica a ideia de que o Governo se habituou a faltar à verdade e que agora não
consegue sair deste registo. É uma chatice!
Sr. Primeiro-Ministro, todos nos lembramos da campanha eleitoral e das promessas que o Sr. Primeiro-
Ministro fez, durante a campanha eleitoral, no sentido de que não iria aumentar impostos e de que os
subsídios de Natal e de férias eram intocáveis. E, afinal, foi o que se viu!
Agora fala de sucessos e nós olhamos para os números do desemprego e temos de dizer que «não bate a
bota com a perdigota»; olhamos para os índices de pobreza e temos de dizer que o Sr. Primeiro-Ministro
estava a falar de outro país; olhamos para a nossa economia e temos de dizer que o Sr. Primeiro-Ministro está
a ver o filme ao contrário; olhamos para o número de falências e temos de dizer que o Sr. Primeiro-Ministro
está a brincar com os portugueses. E, por fim, quando olhamos para a dívida pública, temos de concluir que o
Sr. Primeiro-Ministro volta a faltar à verdade.
Não digo que o Governo falte à verdade compulsivamente, mas atrevo-me a dizer que o Governo se
habituou a fazê-lo desde a campanha eleitoral e agora tem muitas dificuldades em libertar-se desse registo.
Aliás, basta olhar para os dados do Banco de Portugal, que foram divulgados esta semana, para
percebermos a distância que existe entre aquilo que o Governo diz e a realidade, entre aquilo que o Sr.
Primeiro-Ministro disse e os factos: segundo o Banco de Portugal, 2014 ficará marcado por uma enormíssima
destruição do emprego, pela quebra do crescimento da nossa economia e pela continuação acelerada da
degradação do consumo privado — não são Os Verdes que o afirmam, Sr. Primeiro-Ministro, é o Banco de
Portugal quem o diz.
Estes números — aliás, dramáticos — vêm mostrar não só que o Governo continua a faltar à verdade,
como vêm reafirmar também a oportunidade da apresentação desta moção de censura. Mas também vêm
mostrar o quanto estão erradas as políticas deste Governo, que levaram a resultados desastrosos, como, de
resto, atestam as previsões do Banco de Portugal.
Depois, Sr. Primeiro-Ministro, relativamente à redução da despesa, o Governo reduz os salários e diminui
os rendimentos das famílias e o Sr. Primeiro-Ministro chama a isso «redução da despesa»?!
O Governo corta nos rendimentos dos reformados e chama a isso «redução na despesa»?!
O Governo corta nas políticas sociais, nomeadamente na saúde e na educação, e chama a isso «redução
da despesa»?!
Ó Sr. Primeiro-Ministro, sentir-se-ia à vontade para dizer às pessoas que passam fome, às pessoas que
não têm dinheiro para irem ao médico, às pessoas que não conseguem pagar as suas prestações ao banco,
às pessoas que não têm acesso a qualquer apoio social «aguentem-se, porque é assim que o Governo reduz
a despesa»?
O Sr. Primeiro-Ministro sente-se à vontade para o fazer?! Era bom que dissesse alguma coisa sobre isso!
Depois, Sr. Primeiro-Ministro, falou-nos da credibilidade deste Governo. Mas que credibilidade nos merece
um Governo que, para além de estar a prazo, ainda vive com o coração nas mãos, porque a qualquer altura
pode vir uma «decisão irrevogável» — assim, de repente, sem ninguém estar à espera? Portanto, é um
Governo que, para além de estar a prazo, ainda vive com o coração nas mãos.
Risos do PCP.