I SÉRIE — NÚMERO 114
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Pode ser Governo quem prometeu controlar a dívida com alguns sacrifícios e que agora, depois de impor
todos os sacrifícios a quem vive do seu trabalho, tem a dívida maior e completamente descontrolada?
Pode ser Governo quem afirmou que o Programa da troica era o do seu Governo ou que não se podia
diabolizar o FMI e que agora tenta desculpar-se com o mau desenho do Programa?
Mais: pode continuar a ser Governo quem já destruiu o País uma vez e procura novo fôlego para o destruir
uma segunda vez? Pode ser Governo quem não tem palavra? Pode ser Governo quem criou o pântano?
O relatório do Banco de Portugal explica, para quem finge não ter percebido ainda a carta de Vítor Gaspar,
que a continuar este caminho a recessão, em 2014, vai ser ainda pior.
Destruíram já meio milhão de postos de trabalho e, até 2014, vão destruir mais 250 000 postos de trabalho.
Estão a matar o emprego, estão a matar o País! Em dois anos, tudo o que têm para mostrar é o rasto de
destruição da economia e a tragédia social que impuseram ao País.
Ouvimos hoje — e há meses e meses que vamos ouvindo — o Sr. Primeiro-Ministro falar da credibilidade e
da necessidade de estabilidade que este Governo é capaz de oferecer. Sr. Primeiro-Ministro, a sério,
credibilidade?! Credibilidade internacional? O Sr. Primeiro-Ministro tem lido o que escrevem os jornais
internacionais desde que começou o colapso deste Governo, com a demissão do guru da austeridade e com o
entra e sai do seu parceiro de coligação?
Sr. Primeiro-Ministro, nem credibilidade interna nem credibilidade externa. O que hoje todos e todas
sabemos é que a palavra deste Governo não vale nada, e se a palavra de um Governo não valeu nada até
agora, não há qualquer motivo para acreditar que venha a valer no futuro.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Não há limites para os cortes, para os despedimentos, não há limites para
a destruição!
Com este Governo, com o PSD e o CDS não há linhas vermelhas nem há compromissos. Todo o
irrevogável é, afinal, revogável — ensinaram-nos nos últimos dias.
Um Governo, uma maioria, um Presidente e um pântano. O velho sonho do PSD transformou-se no
pesadelo do País. E face ao pântano a escolha é uma: salvar o Governo ou salvar o País.
Aplausos do BE.
O Bloco de Esquerda afirmou, desde o primeiro momento, que a renegociação da dívida era o caminho
inevitável. Disseram que não mas, dois anos passados, a renegociação da dívida aí está, com o País
destruído, com a dívida pública a chegar aos 127% e com o FMI a dizer que facilmente chegará aos 140%. A
questão não é já se há renegociação da dívida, mas, sim, quando, como, em que modo.
O que sabemos, soubemos por Vítor Gaspar, soubemos pelo Governador do Banco de Portugal, é que
com a dívida impagável este Governo está já a negociar o segundo resgate, em versão troica, branda ou
calcular, e que a renegociação da dívida está aí. Mas sabemos que se for feita por este Governo, um Governo
sem credibilidade, a renegociação será sempre feita ao tempo e ao modo dos credores, com mais austeridade,
com mais sacrifícios, com mais destruição do Estado social, com mais destruição de emprego.
Uma renegociação ao modo dos credores é mais e mais transferência de rendimentos do trabalho para o
capital. É por isso que hoje dizemos que a escolha tem de ser eleições, porque com a renegociação da dívida
que aí está é preciso um novo Governo, com uma nova força, uma nova legitimidade! Um Governo que tenha
força junto das instituições nacionais e internacionais para fazer a renegociação da dívida em nome do País,
aquela que tem de ser feita, que faça uma renegociação da dívida que abra caminho ao investimento, que
abra caminho à criação de emprego, que abra caminho à recuperação dos salários, do emprego, à
recuperação dos serviços públicos. É disso que falamos, é dessa nova legitimidade que precisamos.
É preciso abandonar rapidamente este pântano da salvação de um Governo falido e ter a coragem da
alternativa; é preciso juntar forças, ideias, conhecimento para uma renegociação da dívida que abra caminho a
um novo rumo para o País e que proteja a democracia.
As escolhas que temos pela frente são claras. Não há nada a perder já que não o medo.