I SÉRIE — NÚMERO 16
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Os senhores não só dizem, como até escrevem, e passo a ler: «O consumo
privado das famílias, que representa 66,3% do PIB, é uma variável macroeconómica muito importante, cujo
contributo para a estabilização e recuperação da economia e do emprego não deve ser negligenciada. Refira-
se que houve uma queda acumulada de cerca de 9% do consumo privado em 2011 e 2012, prevendo-se que
ainda se volte a verificar uma queda substancial este ano, apesar dos sinais mais recentes de alguma
estabilização». Acabei de ler, Sr. Ministro, as Grandes Opções do Plano que estão aqui em discussão.
Perante estas vossas pias palavras, é preciso confrontar com os números da crua realidade e chegar à
conclusão de que 90% dos trabalhadores do Estado, funcionários públicos, e das empresas do Estado, cerca
de 635 000 trabalhadores vão ter um corte nos salários de 2,5% a 12% e com este corte são particularmente
penalizados os trabalhadores com salários entre 600 € e 1500 € mensais e que 302 000 aposentados, cerca
de metade dos atuais aposentados do Estado, irão sofrer um corte médio de 10%, com as medidas deste
Orçamento do Estado.
Pergunto: o Sr. Ministro encontrou por aí algures a procura interna que anuncia para a importância de dois
terços da economia nacional ou continua a prometer ao País um crescimento baseado nas exportações, que
não responde a esses dois terços da nossa economia?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Os senhores dizem que não podemos ter um crescimento económico apoiado
na dívida. De facto, a vossa receita é muito diferente: é de recessão económica ou, então, de estagnação
económica consoante o milagre, é o encerramento de empresas, é o aumento do desemprego, é a maior
dívida de sempre, que afinal só serve para manter o pipeline dos juros para a banca. Essa tal transformação
estrutural que os senhores anunciam não é substituir importações por produção nacional, é substituir
importações por fome, Sr. Ministro.
O Governo aderiu em força à política do «Não pagamos!». Não pagamos salários, não pagamos subsídios,
não pagamos reformas, complementos de reforma, pensões de sobrevivência, abonos de família, prestações
sociais. Perguntam ao Governo e este responde: «Não pagamos!».
Até na manutenção da rede ferroviária que está sob a tutela de V. Ex.ª, Sr. Ministro da Economia, o vosso
lema é «Não pagamos!» e é sintomático e simbólico que este debate do Orçamento aconteça no último dia de
funcionamento da Linha do Vouga, cujo encerramento está anunciado para a noite de hoje.
Sr. Ministro, pergunto-lhe: o que é que o discurso de V. Ex.ª tem que ver com a realidade do País?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente. — A próxima pergunta é do PS.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Nuno Santos.
O Sr. Pedro Nuno Santos (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia, Sr.as
e Srs. Deputados, disse
o Sr. Ministro recentemente numa entrevista que, a propósito da sua ida para o Governo, foram criadas
elevadas expectativas. Eu concordo consigo, mas compreende-se essas elevadas expetativas de alguém que
vem do setor empresarial, que conhece as dificuldades das empresas em Portugal e que disse o que disse ao
longo do tempo.
Não sei se o Sr. Ministro mantém a Moção de Estratégia Global, apresentada em junho de 2013, ao
Congresso do CDS, que ainda não se realizou,…
Vozes do PS: — Bem lembrado!
O Sr. Pedro Nuno Santos (PS): — … mas, se mantém, há uma grande contradição entre aquele que é o
seu pensamento antes do Governo e aquelas que são a prática e as prioridades daquele que é hoje o seu
Governo e o seu próprio Ministério.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Olha quem fala!