I SÉRIE — NÚMERO 16
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outra vez fazer aumentar as falências; e vão outra vez degradar o balanço dos bancos! A Sr.ª Ministra das
Finanças diz que não. Porquê? Porque acredita.
Tudo bem, mas mais ninguém acredita, Sr.ª Ministra das Finanças, e é o seu dever explicar e não apenas
refugiar-se nas suas convicções e sentimentos pessoais.
Portanto, a Sr.ª Ministra das Finanças tem de dizer como é que explica aquele quadro macroeconómico:
como é que corta 4000 milhões de euros em salários e em pensões e, misteriosamente, o rendimento das
famílias aumenta, bem como o consumo, quando isso nunca aconteceu. Como é que é possível, Sr.ª Ministra?
A Sr.ª Ministra não diz!
A Sr.ª Ministra das Finanças também tem falado muito do reforço do balanço dos bancos. Não sei se leu,
mas são os próprios bancos e a maioria das agências de rating a dizer que, neste momento, a maior ameaça
ao balanço dos bancos (que é aquilo que justifica que a Sr.ª Ministra das Finança esteja sistematicamente a
pôr mais dinheiro para recapitalizar os bancos numa espécie de balde furado, porque a Sr.ª Ministra mete lá
dinheiro mas ele volta a sair) é a procura interna!
Neste momento, a procura interna é a maior ameaça à degradação da estabilidade financeira. E o que é
que a Sr.ª Ministra faz? Degrada a procura interna! E que é que conclui? Não vai acontecer nada ao balanço
dos bancos. Mais uma vez, é a sua convicção e apenas a sua convicção.
Depois, vem-nos falar aqui do futuro radioso, da transformação estrutural, dos extraordinários sinais na
economia! Isso só demonstra que a Sr.ª Ministra das Finanças não faz a mais pequena ideia do que se está a
passar na economia!
Vozes do PSD: — Oh!…
O Sr. João Galamba (PS): — Diz o Instituto Nacional de Estatística (INE) que o que aconteceu no 2.º
trimestre foi que houve uma melhoria da procura interna, quando o objetivo deste Governo era «carregar» na
procura interna e melhorar a procura externa! O INE disse que não foi isso que aconteceu, portanto, os sinais
de que a senhora se vangloria devem-se exatamente àquela área que não quer que melhore — a procura
interna.
Porquê? Bem, aparentemente, as expetativas racionais que fazem com que a austeridade anunciada em
maio não tenha efeitos agora, porque já tinha sido anunciada, não se aplicam à decisão do Tribunal
Constitucional, que nessa mesma altura disse que, afinal, as pessoas iam receber mais dinheiro do que
estavam à espera!
Aplausos do PS.
Portanto, as expetativas racionais só funcionam num sentido, isto é, para a austeridade! Mas no que
respeita ao Tribunal Constitucional, que pôs um travão a estas medidas do Governo, já não interessam!
Portanto, Sr.ª Ministra das Finanças, não percebo como é possível destruir um País e dizer que se cria
futuro! O que é que a Sr.ª Ministra está a construir?! Para além de não reduzir o défice, não melhora a
sustentabilidade da dívida!
A Sr.ª Ministra das Finanças disse que é uma questão de aritmética, que enquanto houver défice a dívida
cresce! Não é! Na página 36 do Relatório do Orçamento do Estado diz-se que a principal razão para aumentar
a dívida não é o défice, é a diferença entre a taxa de juro e o crescimento, que é o chamado «efeito bola de
neve». É o quê, Sr.ª Ministra das Finanças? É a recessão causada pelas suas políticas. Essa sim, e não o
défice, é a principal razão pela qual a dívida cresce! A Sr.ª Ministra das Finanças não quer saber disto, apesar
de estar escrito no seu Orçamento.
Para terminar, a Sr.ª Ministra das Finanças fala muito de futuro. Os portugueses sabem bem que futuro a
Sr.ª Ministra lhes está a reservar: é o passado do qual toda a geração de portugueses quis escapar, desde
que aderimos à União Europeia, ou seja, um passado de pobreza e de miséria.
A Sr.ª Ministra das Finanças e o seu Governo têm uma, e apenas uma, ideia para o País: barato no
trabalho, barato no capital e, depois, o mercado fará a sua magia. Não fez e não fará!… Esse é o futuro de
desgraça que tem para os portugueses!
Este não é o Orçamento da libertação, Sr.ª Ministra das Finanças. É exatamente o oposto!