I SÉRIE — NÚMERO 16
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progredisse ao nível do rendimento do seu trabalho tivesse o proveito efetivo desse rendimento. A pergunta
que importa fazer é, pois, no sentido de saber se a reforma do IRS vai ou não respeitar uma lógica de
progressão social,…
O Sr. Eduardo Cabrita (PS): — Que Orçamento é que estamos a discutir?!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — … aproveitando a redução de escalões que foi feita no ano
passado, de forma a que quem aumente o rendimento do seu trabalho possa permanecer mais tempo no
mesmo escalão, beneficiando do resultado líquido daquele que é o seu esforço.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José
Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças, diz que
este Orçamento é duro e equitativo. De facto, estamos perante um Orçamento duríssimo, mas é-o apenas
para os rendimentos do trabalho, porque os rendimentos do capital continuam sem ser convocados ao
sacrifício.
Portanto, este Orçamento é duro para alguns e é tudo menos equitativo. Representa, aliás, mais uma
transferência dos rendimentos do trabalho para os rendimentos do capital: são 2211 milhões de euros em
cortes nos salários e nas pensões da Administração Pública; uma redução de 13,5 milhões nos abonos de
família; um corte de 6,7 milhões nos apoios sociais; e um corte de 10 milhões nas despesas com o rendimento
social de inserção.
Mas, ao mesmo tempo, o Governo assegura, através deste Orçamento, a crescente garantia de emissão
de dívida por parte da banca, disponibilizando 24 670 milhões de euros para essas garantias, ou seja, mais
550 milhões do que em 2013.
Ó Sr.ª Ministra, afinal, onde está a natureza equitativa deste Orçamento?
Mas, mais: do total da receita obtida pela cobrança de impostos diretos, 75% é conseguida por via dos
impostos sobre os rendimentos do trabalho e apenas 25% é obtida por intermédio de impostos sobre os
rendimentos do capital.
Portanto, volto a perguntar, Sr.ª Ministra: onde está o caráter equitativo deste Orçamento? As famílias
pagam 60% do esforço da austeridade. Entre medidas de corte na despesa com pessoal, com pensões, com
prestações sociais e medidas de aumento de impostos e contribuições sociais, as famílias serão obrigadas a
suportar 2230 milhões líquidos do pacote total dos 3901 milhões de euros.
Ao mesmo tempo, as empresas energéticas, juntamente com a banca, contribuem apenas com 150
milhões de euros, ou seja, 4% do pacote de austeridade — são uns trocos, Sr.ª Ministra.
E volto a perguntar: quando falamos de equidade de que Orçamento é que nós estamos a falar?
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Deste não é!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Segundo as previsões orçamentais do Governo, há a expetativa
de que a receitas fiscais aumentem e que, ao mesmo tempo, baixem as contribuições sociais pagas pelos
trabalhadores, em virtude dos despedimentos que o Governo continua a promover. Porém, sucede que esta
evolução, eu diria em contraciclo, não merece grandes explicações nos documentos que acompanham o
Orçamento do Estado.
E uma das dúvidas surge da previsão de aumento de 3,5% da receita do IRS ao mesmo tempo que as
contribuições sociais no setor privado recuam com o aumento do desemprego.
O Governo diz que a receita fiscal aumentará com a recuperação económica, mas a receita do IVA também
vai cair, como todos sabemos.
Sr.ª Ministra, como é que vão aumentar as receitas fiscais? De que forma? Era bom que a Sr.ª Ministra nos
dissesse como é que isso vai acontecer.