13 DE DEZEMBRO DE 2013
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Paula
Vitorino, do PS.
A Sr.ª Ana Paula Vitorino (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Julgo que na discussão destas
matérias é sempre bom lembrar a importância dos sistemas de controlo de tráfego aéreo, não só para a
segurança de todo o espaço europeu mas também para a defesa dos princípios da União Europeia que têm a
ver com a livre circulação, e com a livre circulação feita em segurança. Para que isso aconteça, é também
importante sublinharmos o papel de Portugal nesta matéria e do sistema que aqui está implementado, que é
reconhecidamente um sistema inovador e pioneiro, que foi precursor de muitos sistemas em matérias da
especialidade que hoje são implementados por toda a Europa e até por todo o mundo.
Neste âmbito, devem ser sublinhadas ainda algumas matérias já aqui referidas, nomeadamente a
diminuição dos custos de utilização do espaço aéreo, mas também, e sobretudo, a diminuição dos atrasos em
termos de segurança devido à integração de toda a cadeia de segurança. Também importante é o facto de se
tratar de uma atividade geradora de riqueza para o País, como já foi referido, significando 175 milhões de
euros por ano.
É também de realçar o facto de Portugal ter sido pioneiro do projeto Free Route — utilizo o termo em inglês
porque é assim referido usualmente —, que é um projeto que também contribui ao nível ambiental, uma vez
que, ao diminuir as rotas, diminui o consumo de energia, de combustíveis fósseis, e diminui a emissão de
gases com efeitos de estufa.
Por isso, Portugal sempre apoiou o projeto do Céu Único Europeu, e apoiou-o com os resultados que estão
à vista.
O PS, quando estava no Governo, apoiou este projeto. Porém, o que é que não pode ser apoiado? Um
projeto europeu que vem desvirtuar todos os princípios que estavam subjacentes à fase anterior e que, pelo
contrário, vem indiciar um conjunto de problemas e que, na nossa perspetiva, não favorece nenhum, ou quase
nenhum, dos países europeus, e que definitivamente não favorece Portugal.
Desde logo, põe em causa postos de trabalho. Acenam com o interesse de poderem vir a ser criados vários
postos de trabalho a nível europeu,…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Mas onde?
A Sr.ª Ana Paula Vitorino (PS): — … mas isso acontecerá no país onde ficar centralizado o sistema,
deixando de existir esses postos de trabalho em Portugal, naturalmente.
Existe ainda uma outra questão a ter em conta, que é a quebra da cadeia de segurança, ao obrigar que
sejam divididas as várias tarefas de que é composta a cadeia de segurança, em que umas são públicas e
outras privadas. E a questão nada tem a ver com o facto de o serviço ser prestado por empresas privadas, tem
a ver com a quebra na interoperabilidade de todo o sistema, o que põe em causa a segurança e vai trazer
também problemas do ponto de vista económico, uma vez que, com certeza, fará aumentar novamente os
atrasos.
É de salientar também o facto de passarmos a comprar os serviços que hoje exportamos, como já foi
referido. Ora, isso não é admissível numa altura em que a nossa balança comercial parece ser o alfa e o
ómega de todas as matérias. Portanto, não vamos estar aqui a prejudicar Portugal com uma situação que nos
é, obviamente, desfavorável.
Este projeto põe ainda em causa algo que é extremamente importante: o cluster de inovação em matérias
ligadas à segurança do tráfego aéreo, que é dos clusters mais importantes em Portugal, porventura dos
poucos que temos no nosso País. A deslocalização desta atividade económica para outro país implica
imediatamente, na nossa perspetiva, a diminuição do empenho, do interesse e até dos recursos disponíveis
para apoiar esse cluster de inovação.
Mas, acima de tudo, este projeto representa a apropriação de uma matéria que é uma reserva de soberania
nacional. Ou seja, a Comissão Europeia está a tentar apropriar-se de uma competência nacional, pondo em
causa a soberania nacional e violando claramente o princípio da subsidiariedade.
Srs. Deputados, por tudo isto, por questões de segurança, por questões económicas, por questões sociais
e por questões de manutenção de postos de trabalho, o Partido Socialista apresenta o projeto de resolução