O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

21 DE DEZEMBRO DE 2013

13

O Sr. João Ramos (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O processo de destruição da Casa do Douro

foi iniciado há muito e este Governo está determinado em acabar o servicinho.

Esta instituição e as suas dificuldades estão bem expressas nos mais de 30 meses de salários em atraso

dos trabalhadores sem vínculo à função pública.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Uma vergonha!

O Sr. João Ramos (PCP): — É inaceitável que os trabalhadores de uma instituição com funções públicas

tenham mais de 30 meses de salários em atraso e o Governo não tenha a sensibilidade para a resolução do

problema. A única atuação do Governo neste sentido foi congelar as contas da Casa do Douro. Enquanto se

procuraram as soluções, a dívida vai-se agravando e só na vigência deste Governo, em juros de mora, sofreu

um agravamento de 4 milhões de euros.

Perante esta grave situação, o Governo, dois anos e meio depois de estar em funções, apresenta uma

solução, já antes apresentada: vender os ativos da Casa do Douro, certamente muito apetecidos, e

transformar a Casa do Douro numa entidade de direito privado, como se, para criar uma estrutura de interesse

privado, fosse preciso a intervenção do Estado. Enquanto faz isto apresenta a intenção de entregar a privados

as competências do IVDP.

A ofensiva começou com o roubo do cadastro à Casa do Douro e acentuou-se com a ordem dos Governos

para a Casa do Douro adquirir vinhos sem a respetiva compensação. A partir daí, a situação foi-se agravando.

Outra face desta ofensiva é o processo de avaliação dos vinhos para pagamento de dívidas. A avaliação,

feita em 2009, foi sempre muito contestada.

Em quase metade das colheitas avaliadas, há diminuições de valor relativamente aos preços de mercado.

A própria direção da Casa do Douro apresentou aqui, na Assembleia da República, os elementos que

justificam essa contestação. A colheita de 1982 tinha sido avaliada pela banca e pelo Estado, em 1997,

quando alguns vinhos foram dados como garantia, em 2300 € a pipa; a Casa do Douro vendeu vinhos dessa

colheita a 5200 € e o relatório do IVDP sobre os preços à saída do armazém atribui-lhe um preço médio de 11

600 €. Contudo, a avaliação, feita em 2009, pelo IVDP, atribui-lhe o valor de cerca de 1400 €,…

O Sr. João Oliveira (PCP): — Uma vergonha!

O Sr. João Ramos (PCP): — … isto é, 10 vezes menos do que o valor que lhe atribuiu o relatório referido.

Os mesmos vinhos que o IVDP avaliou, em 2009, por 92 milhões de euros, em 2008, estavam avaliados

pela seguradora em 141 milhões.

Não haja dúvida de que são necessários esclarecimentos e, neste contexto, exige-se uma avaliação séria.

Desde logo, porque não faz sentido que os vinhos sejam avaliados pelo IVDP, que tem sido o instrumento de

ataque à Casa do Douro.

Estas são as razões que nos levarão a votar favoravelmente as recomendações propostas.

Mas tudo isto acontece para quê? Ao atacar a Casa do Douro, o Governo ataca os mais de 40 000

pequenos e médios viticultores e cria condições para que as grandes casas exportadoras avancem na área da

produção direta e monopolizem a produção de vinho no Douro.

Vozes do PCP: — Exatamente!

O Sr. João Ramos (PCP): — Para os pequenos produtores, vai ficando o aumento dos custos de

produção, como é exemplo o dos custos da aguardente, antes controlada pela Casa do Douro e, agora,

liberalizada. Fica a degradação acentuada da rentabilidade das suas explorações e muitas vezes não lhes

resta mais do que entregá-las à banca como pagamento de hipotecas.

O Governo, que aponta a forca como único caminho para a Casa do Douro, caminha de braço dado com as

casas exportadoras. O caso da Casa do Douro é mais um que ilustra o processo de concentração da riqueza

que está em curso em Portugal, acentuado por este Governo, mas iniciado há muitos Governos. Quanto mais