11 DE JANEIRO DE 2014
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O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Queria dizer, em primeiro lugar,
que esta é para mim, provavelmente, uma das intervenções mais difíceis que me foi dado fazer nesta Câmara.
Nós, quem tem mais de 12 anos de mandato parlamentar e algum tempo nesta Câmara, passámos por
muitos votos de pesar; muitas vezes, votos de pesar pelo falecimento de personalidades consensuais que
tanto admiramos, mas que não conhecemos. Estou a lembrar-me do recente voto de pesar pelo falecimento
de Nelson Mandela ou do voto de pesar, que votaremos hoje mesmo, pelo falecimento de uma grande figura
portuguesa.
Outras vezes, despedimo-nos de figuras que conhecemos no Parlamento, com quem convivemos e que
respeitávamos e considerávamos. Figuras de todas as bancadas. Estou a lembrar-me de João Amaral, de Lino
de Carvalho, de Marques Júnior ou de Maria José Nogueira Pinto.
No entanto, para mim, em particular, pronunciar-me sobre este voto tem duas dificuldades: em primeiro
lugar, a amizade; em segundo lugar, o facto de não me lembrar de me ter despedido de um político com quem
aqui convivi, que é do meu tempo, da minha geração, que parte, por isso, novo (era um ano mais novo do que
eu) e que tinha ainda muito para dar à política, ao País e a este Parlamento.
Revejo-me muito no Deputado em funções que parte; revejo-me muito naquilo que ouvimos neste voto e no
muito bonito artigo que o Francisco Assis publicou ontem, no Público.
O Manuel Seabra — em três palavras, como é hábito nestes votos — era um daqueles homens (e existem
homens desses em todas as bancadas) que chegou à política por acreditar na justiça como um ideal absoluto,
um ideal de vida e de realização de vida, que teve sempre a dignidade e a hombridade de agir com
determinação em função das suas convicções e dos seus valores e de o fazer com tolerância, com humildade,
com compreensão pelos outros e pela posição dos outros, como era sua maneira de ser e como aqui já foi
dito, hoje.
Neste momento, a Assembleia da República está de luto porque perdeu um Deputado, perdeu um grande
Deputado e perdeu um Deputado em funções.
O seu partido, o Partido Socialista, está de luto e está triste, seguramente, porque perdeu um dos seus
homens bons, uma das suas grandes figuras, um político que tinha muito a dar a Portugal.
Todo o País está de luto. A dor maior é, seguramente, da sua família, que perdeu um marido, um irmão, um
pai — e essa é sempre a dor maior.
Sr. Presidente, termino dizendo o seguinte: eu perdi um amigo. O Francisco Assis falou nisso ontem. Li as
citações que o Francisco fez e lembrei-me de uma outra citação, se não estou em erro, de Cícero: «Perder um
amigo é perder um outro de nós próprios». É isso que sinto um pouco neste momento. Terei, obviamente,
muitas saudades.
No domingo, no Estádio da Luz, também fizemos 1 minuto de silêncio em memória do Manuel Seabra.
Uniam-nos também, a mim e ao Manuel, os jogos de futebol que vimos juntos em Portugal e fora de Portugal.
Ele, tal como eu, tinha uma paixão pelo futebol e pelo mesmo clube. Tantas vezes estivemos juntos…
Vou ter muitas saudades das conversas que tive com ele sobre política, para discordar mas também, às
vezes, para concordar, e sobre futebol, para concordar, mas também algumas vezes para discordar. Vou ter
muitas saudades de muitas conversas que tive com ele.
Adeus Manel! Até sempre e que Deus te guarde!
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Foi com grande
consternação que tomámos conhecimento do falecimento do Dr. Manuel Seabra.
Participávamos ambos numa comissão de inquérito que, durante longos meses, desenvolveu os seus
trabalhos nesta Assembleia e o Manuel Seabra destacou-se, enquanto o seu estado de saúde lhe permitiu, e
nessa comissão expressámos um voto unânime para que o Manuel Seabra se juntasse rapidamente a nós nos
trabalhos parlamentares. E foi nessa comissão de inquérito que pudemos conviver mais intensamente.
Manuel Seabra assumiu o mandato na Assembleia da República já com um longo trajeto de participação
cívica e de participação na vida política: tinha sido vereador e também Presidente da Câmara Municipal de
Matosinhos, portanto, era uma personalidade já bem conhecida da vida política portuguesa quando assumiu
aqui o mandato.