23 DE JANEIRO DE 2014
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E não chega, Sr. Deputado Adão Silva, vir aqui dizer que se expurga apenas o artigo 7.º, que o Tribunal
Constitucional declarou inconstitucional, porque a intenção política desta lei é o maior ataque aos pensionistas
da Caixa Geral de Aposentações, que, como aqui já foi dito, receberão, no futuro, pensões inferiores à dos
trabalhadores do setor privado.
Mas que raio de convergência! Os senhores não querem fazer nenhuma convergência. Não querem fazê-
la, nem nas pensões, nem noutras matérias. Os senhores querem, pura e simplesmente, atacar os
pensionistas dizendo ao País que são um «bando» de pessoas — pessoas que trabalharam 40, 45 e 46 anos,
muitos delas até entraram para a Administração Pública aos 16 anos — e retirando-lhes agora a bonificação
da anterior lei para carreiras contributivas longas. Os senhores querem penalizar os mais velhos e têm o
descaramento de vir falar em solidariedade intergeracional.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Esta reapreciação do
diploma que pretendia estabelecer a convergência de pensões merece-nos, desde já, três notas.
A primeira é que esta reapreciação do diploma, que o Tribunal Constitucional considerou inconstitucional,
veio, mais uma vez, mostrar as dificuldades que este Governo continua a ter em governar no respeito pela
Constituição. Vem mostrar o quanto este Governo convive mal com a Lei Fundamental do País, que é a
Constituição da República Portuguesa.
A segunda nota é que o Governo e a maioria, ao transformarem a convergência no agravamento da
contribuição extraordinária de solidariedade (CES), vêm mostrar que o objetivo do Governo nunca foi a
convergência de pensões. Aquilo que o Governo pretendia, como pretende, era, e é, proceder a cortes
inaceitáveis, indignos e imorais nas pensões, depois de ter feito tudo aquilo que fez já aos pensionistas.
Nesta matéria, seria sempre oportuno recordar que o Governo, neste caso, continua a dispor de um
património que não é seu, é um património que não lhe pertence. O Governo continua a dispor de um
património alheio, porque esses valores correspondem aos valores que as pessoas foram descontando ao
longo da vida e confiaram ao Estado, no pressuposto de que, mais tarde, reaviam esses valores nos exatos
termos que acordaram com o Estado.
As pessoas cumpriram com a sua parte, descontando, e o Governo vem agora, dando o dito por não dito,
faltar, mais uma vez, à sua palavra. E aqui, terei de recordar as palavras dos partidos da maioria, quando
noutras discussões, que não as pensões, claro, nos vêm dizer que o Estado tem de cumprir com a sua palavra
porque isso é um imperativo num Estado de direito. Pois é, Srs. Deputados da maioria, é um imperativo do
Estado de direito, é, de facto. Mas sendo-o, deverá ser evocado também quando falamos de pensões e não
apenas quando falamos dos compromissos que Portugal assumiu com a troica. E, hoje, ainda não ouvimos e,
certamente, também não iremos ouvir, nem o PSD, nem o CDS falar da necessidade de o Governo cumprir a
sua palavra para com os pensionistas. Até parece que para os pensionistas não há Estado de direito. É uma
vergonha que, depois do que já fizeram aos reformados e pensionistas, venham agora impor mais sacrifícios
àqueles que já hoje vivem numa situação verdadeiramente insustentável.
A terceira nota que queríamos deixar é que, afinal, a linha vermelha do CDS-PP já era ou, antes, nunca foi.
Houve tanta linha vermelha no CDS como decisões irrevogáveis do Ministro Paulo Portas. E, bem vistas as
coisas, a «linha vermelha» do CDS só pode ser comparada às promessas do Sr. Primeiro-Ministro durante a
campanha eleitoral, de que não iria aumentar impostos, de que não haveria cortes nas pensões e de que os
subsídios eram intocáveis. É só gente de palavra! É só gente de palavra!
Esta operação de cosmética, que transforma a dita convergência no agravamento da contribuição
extraordinária de solidariedade, não é, afinal, um plano b. Trata-se de um plano a, versão 2, porque o Governo
acaba por ir retirar aos mesmos aquilo que não conseguiu retirar na versão 1.
O Governo, que pretende agora voltar a sacrificar os pensionistas, é o mesmo Governo que continua a dar
benefícios fiscais às grandes empresas, de que a descida do IRC é um exemplo claro. A lógica do Governo é
simples: o Governo coloca as grandes empresas a pagar menos impostos; são milhões e milhões de euros