1 DE FEVEREIRO DE 2014
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O Sr. Primeiro-Ministro: — Sabemos também que existem ainda, no plano da ferrovia, ligações
importantes e estratégicas para o País, que devem ligar os nossos principais portos, em particular os de águas
profundas, à placa continental europeia.
Precisamos, portanto, de avaliar de forma muito transparente quais são os investimentos estratégicos que
necessitamos de fazer, concedendo que, antes de tomarmos uma decisão sobre eles, temos de fazer uma
avaliação custo/benefício muito rigorosa, em que não partamos de pressupostos irrealistas para tirar as
conclusões que nos interessam, ainda antes de as decisões serem tomadas. Foi assim no passado. Foi assim
com o TGV, por exemplo. Foi um dos projetos que o atual Governo parou, e bem, cujos pressupostos de
avaliação económico-financeira eram profundamente desajustados da realidade…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … e, por isso, apresentavam conclusões totalmente irrealistas, pressupondo
níveis de tráfego absurdos relativamente a Lisboa e a Madrid, como muitas vezes não eram registados em
ligações de alta velocidade, por exemplo, entre Paris e Londres.
Significa isto, Sr. Deputado, que temos de recusar essa tentação, que, no passado, se materializou, de
pormos em conclusão as decisões que já tínhamos tomado, mandando forjar estudos de avaliação técnica e
financeira para suportar decisões políticas erradas que foram tomadas no passado.
Protestos do PS.
Isso não acontecerá no próximo ciclo de sete anos de financiamento europeu!
Em segundo lugar, em abono dessa mudança de filosofia, introduzimos um valor significativo de fundos
reembolsáveis. Esse valor ainda não está finalizado e, portanto, digo isto com esta reserva. Ainda não
definimos — iremos fazê-lo até abril — o montante exato de fundos reembolsáveis que serão utilizados.
É preciso também estabelecer bem se os fundos reembolsados serão 100% reembolsáveis, se
parcialmente reembolsáveis e, em qualquer das modalidades, em que áreas é que eles podem funcionar
nessa modalidade.
Por exemplo, não é indiferente, em função dos mercados de destino de exportações portuguesas, utilizar
fundos reembolsáveis a 100% ou parcialmente reembolsáveis; depende, evidentemente, dos custos que são
enfrentados em mercados que não têm o mesmo nível de acessibilidade.
Porém, é importante que, de um modo geral, seja na área do ambiente, seja na área da eficiência
energética, seja na área das infraestruturas, de algumas infraestruturas, que não apenas ambientais ou
energéticas, que, no próprio desenvolvimento regional, haja um certo limite mínimo de fundos reembolsáveis
que garantam a racionalidade dos projetos.
Mas, Sr. Deputado, que garantam também que, não se substituindo o Estado ao sistema financeiro
financiando esses projetos com fundos comunitários porque, evidentemente, eles não podem ter o custo, em
termos de juro, que tem qualquer financiamento na banca para as entidades que pretendem desenvolver
determinados projetos — terão, com certeza, prazos de carência muito mais elevados —, não havendo essa
concorrência, possa haver complementaridade.
Significa, portanto, que a IFD, a Instituição Financeira de Desenvolvimento, não vai funcionar de forma
concorrencial com o retalho financeiro, irá funcionar de forma complementar.
Isso garante, em primeiro lugar, que a análise de viabilidade económica e financeira dos projetos não é
induzida pelas opções políticas do Governo, mas é obtida através dos relatórios imparciais e independentes do
Governo, realizados por instituições financeiras capacitadas para o fazer; em segundo lugar, que os fundos
que gozem desta natureza não poderão deixar de alavancar muito mais o financiamento disponível para a
economia.
Significa isto que podemos garantir um volume de fundos que funcionará para muitos mais projetos e
empresas do que aqueles que são utilizados a fundo perdido, simplesmente porque serão fundos recicláveis
para a economia.
Portanto, Sr. Deputado, hoje, claramente, a nossa prioridade não é gastar todo o dinheiro — essa foi
sempre a armadilha em que se caiu no passado.