I SÉRIE — NÚMERO 46
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Podemos dizer que estes números da comissão de avaliação — constituída pelo Banco de Portugal, pela
Associação de Bancos, pela Deco, pela Direcção-Geral do Consumidor, pela CMVM, pelos representantes da
Sr.ª Ministra das Finanças e do Sr. Ministro da Economia — ditam que o caráter desta lei é restritivo e
burocrático e não deveria ter sido assim. Houve outras propostas mais abrangentes e com alcance suficiente
para responder a este drama. Houve 19 iniciativas legislativas. O PS apresentou quatro projetos de lei e dois
projetos de resolução.
O próprio PSD começou por apresentar propostas na linha dos restantes grupos parlamentares. Só que, a
certa altura, e para espanto geral, o PSD recuou nas posições, abandonou as suas propostas e colocou-se na
esfera das propostas defendidas coincidentemente pela banca.
Aplausos do PS.
Estávamos na primeira metade do ano de 2012 e a política de austeridade já afetava famílias e empresas:
o corte nas pensões, o corte nos salários, o aumento de impostos, o aumento das contribuições, a queda do
subsídio de desemprego, a queda do subsídio social de desemprego, a queda do complemento social para
idosos, uma política de empobrecimento que levou ao desemprego elevado, a uma vaga de emigração e à
insuficiência económica de muitas famílias.
O PS apresentou três propostas entretanto recusadas pela maioria, que convém relembrar. Uma delas foi a
da dação em cumprimento, ou seja, permitir que as famílias entregassem o bem imóvel e com isso ficavam
extintas as obrigações de contratos de crédito.
O PS propôs a criação de um fundo de garantia de crédito à habitação.
O PS propôs a suspensão da venda executiva de imóveis por dívidas fiscais por parte de agregados
familiares que se encontrassem em situação económica muito difícil.
Estas três propostas capitais para ajudar estas 124 000 famílias foram rejeitadas, em 2012, pela maioria
PSD e CDS.
Aplausos do PS.
Foi uma oportunidade perdida para dezenas de milhares de famílias, que, durante 15 meses, ficaram
impedidas de beneficiar não só da dação em cumprimento como do fundo de garantia do crédito à habitação,
como também da suspensão da venda executiva de imóveis por dívidas fiscais.
Ora, quer pela ineficácia da lei quer pelo agravamento da situação económica das famílias, há que a
alterar, bem como reeditar outras propostas capazes de desagravar esta problemática.
Por isso, o Partido Socialista deu hoje entrada de um projeto de lei e a dois projetos de resolução, sendo
que no projeto de lei se propõe a alteração dos fatores de acesso a este regime com o objetivo ampliar o nível
de acesso por parte das famílias que precisam deste auxílio, substituindo o rendimento anual bruto pelo
rendimento anual líquido, por uma razão simples: é que, nos últimos anos, com o corte nos salários, o
aumento de impostos e o aumento de contribuições a diferença entre o rendimento anual bruto e o rendimento
anua líquido tem sido acentuada e, portanto, o fator de acesso tem de deixar de ser o rendimento anual bruto
para passar a ser o rendimento anual líquido.
Aplausos do PS.
Propomos também o aumento dos valores dos limites patrimoniais tributários porque nos últimos anos têm
aumentado as avaliações de imóveis, e isso não pode ser descurado no âmbito da lei.
Propomos ainda o alargamento da base de cálculo da taxa de esforço porque sobre a mesma a hipoteca
pode recair, em muitas situações, mais do que um contrato, não sendo de crédito à habitação mas, por
exemplo, de crédito ao consumo.
Vozes do PS:— Muito bem!