I SÉRIE — NÚMERO 61
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Essa está boa! Há de dizer a que posição sindical está a referir-se!
O Sr. Pedro Roque (PSD): — … e, em simultâneo, cumpre com a questão constitucional essencial — a
não discricionariedade do despedimento.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado David Costa do PCP.
O Sr. David Costa (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: O
Governo continua a perseguir os trabalhadores. Depois de cortar nos salários, de abolir feriados e dias de
férias, entre outras malfeitorias, vem agora, com esta proposta de alteração do Código do Trabalho, facilitar os
despedimentos.
Para satisfazer a vontade da troica estrangeira, que exigiu baixar os salários no setor privado, o Primeiro-
Ministro e o seu Governo, do PSD/CDS-PP, revelam agora a sua estratégia: primeiro, encenaram uma
divergência com a troica dizendo não estarem dispostos a reduzir os salários no setor privado e chegaram
mesmo a afirmar que aí os salários já estavam ajustados; agora, apresentam uma proposta para facilitar o
despedimento dos trabalhadores com mais antiguidade e salários mais elevados, com critérios feitos à medida
do patrão, para substituir esses trabalhadores por outros, com salários mais baixos e com menos direitos,
agravando a exploração.
Vozes do PCP: — Exatamente!
O Sr. David Costa (PCP): — Assente em critérios subjetivos, esta machadada legislativa de liberalização
dos despedimentos não é mais do que um convite a um desequilíbrio ainda maior das relações laborais dentro
das empresas, a favor do patronato e em prejuízo dos trabalhadores.
Mais: esta proposta não pode ser desligada da intenção do Governo de reduzir as indemnizações nos
despedimentos sem justa causa e de também por essa via promover o desemprego.
Percebe-se bem, com a apresentação desta proposta de lei, a verdadeira intenção do PSD/CDS. Tal como
sempre dissemos, o verdadeiro objetivo deste Governo é aprofundar o modelo de baixos salários, com total
precarização dos direitos dos trabalhadores.
O sentido em que esta política de direita leva o País está errado. Despedir trabalhadores de forma
descartável e não respeitar os trabalhadores que sempre deram e dão tudo pelo País é indigno, errado e
injusto.
Tanta retórica, tanta preocupação com o desemprego estrutural e com o impacto no desequilíbrio da
segurança social mas, quando chega a hora da decisão, o Governo não toma uma medida eficaz para a
criação de emprego…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Essa é que é essa!
O Sr. David Costa (PCP): — … e, como podemos atestar, ainda vem atacar quem tem trabalho, preferindo
legislar para promover os despedimentos e o desemprego.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Isso mesmo!
O Sr. David Costa (PCP): — Bem pode este Governo tentar enganar os portugueses falando de saídas
limpas e de futuros risonhos. Com este Governo PSD/CDS, o que os portugueses podem esperar são décadas
de sofrimento, empobrecimento e degradação das condições de vida dos trabalhadores e do povo português.
Sem a derrota deste Governo, a sua demissão e uma rutura com a política de direita não há esperança no
futuro deste País.
Aplausos do PCP.