15 DE MARÇO DE 2014
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A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Sá, do PS.
O Sr. Nuno Sá (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, Sr.ª e Sr. Secretários de Estado, Sr.as
e Srs.
Deputados: Hoje, discutimos mais uma iniciativa com a marca ideológica deste Governo. Sim, com a marca
ideológica profunda deste Governo!
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Nuno Sá (PS): — Mas este diploma tem uma história, uma história que convém aqui recordar.
O PSD e o CDS-PP apresentaram-se aos portugueses com um projeto de reforma constitucional e uma
das medidas que propunham para reformar a nossa Constituição era, precisamente, a de acabar com o
conceito de justa causa para se poder despedir em Portugal. Abandonaram a reforma da Constituição, desde
logo porque não contavam com o Partido Socialista e com os seus votos para o poderem fazer.
A seguir, vieram com uma proposta que foi chumbada pelo Tribunal Constitucional, uma lei do Governo que
deixava ao livre critério da entidade patronal o poder de despedir um trabalhador. O despedimento em
Portugal era livre, podendo a entidade patronal encontrar os critérios que muito bem entendesse.
Pois, muito bem, o Tribunal Constitucional chumbou esta proposta e, hoje, o Governo apresenta à
Assembleia da República uma proposta que segue esta linha de orientação ideológica, uma linha de
desregulação selvática das relações laborais, uma linha que torna o mundo do trabalho numa verdadeira
selva, sem ter em conta o princípio da proteção da entidade, da pessoa mais frágil na relação laboral, que é
precisamente o trabalhador.
Aplausos do PS.
Sr. Ministro, Sr.ª e Sr. Secretários de Estado, é um Governo que vem aqui em estado de dificuldade,
porque é um Governo que está contra tudo e contra todos; é um Governo isolado.
Esta é a primeira alteração ao Código do Trabalho que se faz em Portugal sem o acordo de nenhum
parceiro social. É a primeira vez que há uma alteração ao Código do Trabalho com esta profundidade e com
esta importância, só por única e exclusiva vontade do Governo.
É um Governo que está contra os parceiros sociais; está contra o Tribunal Constitucional; está contra os
vetos do Presidente da República; está contra os movimentos da sociedade civil. É um Governo isolado da
realidade portuguesa que, seguramente, está mais afastado pela maioria dos portugueses, contra a maioria
dos quais tem governado.
Aplausos do PS.
Só os dogmas e preconceitos ideológicos deste Governo justificam estas alterações ao Código do
Trabalho, que, diga-se, os parceiros sociais não pediram, não entendem. Não se trata, Sr. Ministro, de
flexissegurança, porque, ao mesmo tempo que dizem querer flexibilizar os despedimentos, não estão a elevar
os salários, não estão a dar mais direitos para compensar essa perda com a flexibilização e, por outro lado,
estão precisamente a fazer o contrário do que diz a flexissegurança, estão a reduzir a proteção no
desemprego — vem aí, até, encerramentos de centros de emprego e mais cortes nas prestações sociais. A
realidade demonstra que a desregulação laboral com mais facilidade para despedir e para reduzir salários não
está a criar emprego.
Quanto ao emprego, o Sr. Ministro pode repetir o «disco» da propaganda as vezes que quiser, porque nós
também estaremos aqui para descrever a realidade que os portugueses sentem as vezes que forem precisas,
Sr. Ministro!
Aplausos do PS.