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I SÉRIE — NÚMERO 67

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Na corrida frenética da propaganda eleitoral, temos visto um pouco de tudo: do debate sobre as

divergências insanáveis que nunca tiveram conteúdo para lá da folha de rosto à concorrência entre agências

de comunicação, dentro do próprio Governo, que provocam os números tristes, mas reveladores, de um

secretário de Estado que anuncia o que o Ministro nega, mas todos sabemos que é o que se prepara.

A desorientação do Governo para esconder o que está à vista é clara mas não esconde o essencial. O

plano mantém-se o mesmo: uma espiral destrutiva de dívida, austeridade, empobrecimento. Usando a

chantagem da dívida, impõem austeridade, o que resulta em empobrecimento, e num País mais pobre, com

uma dívida crescente, a dívida agrava-se e é desculpa para nova e reforçada austeridade, recomeçando o

ciclo sempre imparável do empobrecimento.

Façamos as contas: em cada 6 € de austeridade, 5 € foram diretamente para o caixote do lixo.

Empobrecemos sem qualquer sentido ou finalidade, que não o propósito ideológico de proceder a uma

gigantesca transferência de rendimentos do trabalho para o capital.

O Governo, que fez do pagamento da dívida a sua bandeira, foi o que mais aumentou a dívida pública em

Portugal.

Mas, Sr.as

e Srs. Membros do Governo, Sr.as

e Srs. Deputados, ouvimos agora o Governo dizer que há

sinais positivos, para o País e não para as pessoas, clarificam, como se não o soubessem as pessoas.

Mas fossem esses sinais reais e consistentes não seria este o momento para devolver rendimentos a quem

ficou sempre com a pior parte? Não nos enganemos. Os sinais positivos são as novas gorduras ou as novas

despesas intermédias; são a dissimulação de sempre de quem só tem para oferecer mais chantagem e mais

empobrecimento.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Claro!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sabemo-lo a cada dia que passa: a austeridade não é para todos.

Na mesma semana em que um ministro anunciou, pela enésima vez, que, agora sim, o Governo vai mexer

nas rendas excessivas da energia, o Instituto Nacional de Estatística diz-nos que 3 em cada 10 cidadãos não

têm dinheiro sequer para aquecerem a casa.

Todos os contratos foram rasgados por este Governo: desde o mais importante compromisso para com os

trabalhadores, que é o seu salário, até à confiança que foi celebrada com os pensionistas, nenhum escapou.

Todas as garantias jurídicas dos trabalhadores foram letra morta, mas nunca, nunca pensar em renegociar as

PPP (parcerias público-privadas), as rendas excessivas da energia ou, heresia das heresias, os juros de uma

dívida que todos sabem ser impagável.

Hoje, a chantagem é que, depois de tanto esforço, é preciso continuar: tudo o que foi prometido como

transitório seja, afinal, permanente, e a única certeza será a de que o contrato social não vale e está em

permanente reestruturação, para que a dívida, essa, seja sacrossanta. A única atividade sem risco, e que não

pode nunca ser tocada em tempo de crise, ainda que tenha sido ela a criar a crise, é a especulação sobre a

dívida pública. A dissimulação não serve mais do que para esconder este gigantesco privilégio à finança do

Governo PSD/CDS e da troica.

À dissimulação dos sinais positivos que não chegam às pessoas junta-se a chantagem de mais austeridade

da «nova normalidade», ainda que nada haja para oferecer à frente que não mais dívida e mais

empobrecimento, apenas destruição, décadas de austeridade, a receita em que nos pedem para confiar, a que

resultará, talvez, se os juros forem baixos e se um País mais pobre for capaz de produzir mais.

Sacrifícios, pedem, prometendo que valerão a pena no dia em que nevar em agosto em Lisboa e em que

fizerem 40º em dezembro, na Serra da Estrela — o acaso meteorológico, com tanta probabilidade como a de

um país poder ter 30 anos consecutivos de taxas de crescimento de 3% e saldos primários de 4%. Nunca

aconteceu!

Risos de Deputados do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Que imagem bonita!…