29 DE MARÇO DE 2014
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A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A política da dissimulação,
chantagem e destruição aposta num País com medo e mesquinho, em que os filhos façam de conta que a
perda das pensões dos pais é o preço por ser velho; em que os pais pensem que a precariedade dos filhos é o
preço por ser jovem; em que quem tem emprego olhe quem não tem como pária; em que quem não tem
emprego já não conta. Esse não é o nosso País!
A «nova normalidade» que nos propõem não é mais do que a velha exploração de séculos, enfeitada com
a novilíngua de quem chama «ajustamento» a empobrecimento.
Sr.as
e Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Se, ao fim de três anos da troica, nunca
estivemos tão endividados, nunca tivemos uma economia tão frágil, com tantos desempregados e
desempregadas, e a perder pessoas, a cada mês que passa, para a emigração e o desemprego, imaginemos
o que restará do País ao fim de duas ou três décadas desta política.
Travar a austeridade, mais cedo do que tarde, é um imperativo nacional.
Aplausos do BE.
Quando o Governo se prepara para defender a indexação das pensões e salários ao crescimento
económico, fazemos aqui uma proposta muito concreta: por uma vez, não mexer nos contratos de trabalho,
mas nos dos sacrossantos mercados e condicionar o pagamento da dívida ao crescimento económico. Já foi
feito, nada mais, nada menos, pela Alemanha.
Sr.as
e Srs. Deputados, A escolha que Portugal enfrenta hoje não é fácil, mas é determinante: se aceitamos
um País de joelhos e humilhado, onde não é possível viver com dignidade ou se nos levantamos e afirmamos
a necessidade, em Portugal, na Europa e junto da finança internacional, de renegociar a dívida, recuperar
soberania, respeitar o contrato social, criar emprego, crescer.
A discussão sobre o pós-troica é a discussão sobre alternativas e caminhos: saber se o País aguenta
décadas de uma austeridade sem outro propósito que não seja produzir um exército de pobres, com baixos
salários; ou se, pelo contrário, temos a coragem de defender os direitos dos cidadãos e reestruturar a dívida
para libertar espaço para o investimento e criação de emprego. Entre um passado sem presente e o futuro,
escolhemos o futuro.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Ainda na abertura do debate, pelo Governo, tem a palavra o Sr. Vice-Primeiro-
Ministro.
O Sr. Vice-Primeiro-Ministro (Paulo Portas) — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A interpelação do
Bloco de Esquerda tem três temas — o balanço do PAEF (Programa de Assistência Económica e Financeira),
e é boa altura para o fazer; a avaliação da troica, que é uma perspetiva interessante, porque não são apenas
os países a ser avaliados, também o devem ser as instituições; e o pós-troica. A mera ideia de que o Bloco de
Esquerda admite que há um pós-troica devia ser lida como uma reforma estrutural do próprio Bloco de
Esquerda.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Sim, obviamente, há uma diferença entre o ciclo que vai até ao fim do resgate e o ciclo que começa com o
fim do resgate. É, aliás, isso que dá sentido ao esforço notável, digno, evidentemente com sofrimento e
também com contenção, que os portugueses fizeram, e fazem, para pôr termo a uma situação que equivale a
um protetorado e recuperar a autonomia de Portugal.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.