12 DE ABRIL DE 2014
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O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr.as
e Srs. Deputados, há consenso entre as diversas bancadas no
sentido de as votações se fazerem no final do debate, suponho que daqui a cerca de 20 minutos.
Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr. ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, o Sr. Deputado Adão Silva fez um discurso mais
ou menos a desvincular qualquer responsabilidade que o PSD e também o CDS pudessem ter na situação que
o País vive atualmente, dizendo que a troica é que nos obrigou a fazer.
Sr. Deputado, talvez seja importante recordar que o Memorando com a tórica foi assinado pelo PS mas
também pelo PSD, pelo CDS. Portanto, procurar desvincular-se de qualquer responsabilidade… Esse
Memorando existe em Portugal porque os senhores aceitaram. Portanto, acho que, de facto, é preciso ter um
pouco de pudor naquilo que se vai afirmando.
É claro que as medidas de austeridade do Memorando da troica teriam de afetar as pessoas, mas é preciso
que se perceba que não foi afetar as pessoas de modo a levá-las a ter um pouquinho mais de dificuldades na
sua vida. Não! Foi pegar num «bolo» grande de pessoas e encaixá-las na bolsa de pobreza, ou seja, as
pessoas ficaram pobres. Há hoje mais pobres, em Portugal, devido às políticas que foram tomadas.
Portanto, não ter esta consciência é viver, de facto, um pouco aluado politicamente.
Já agora, gostava de dizer ao Sr. Deputado do CDS que a pobreza convosco está hoje mais enraizada,
está hoje mais alargada, e isso é absolutamente inadmissível.
Agora vejam bem, Sr.as
e Srs. Deputados: houve um corte nos salários e nas pensões, uma redução das
prestações sociais, um brutal aumento de impostos, impostos que foram justamente afetar aqueles que mais
fragilidade económica têm. Foi fundamentalmente este «bolo» que aqui foquei que o Governo e a troica
usaram para, como dizem, salvar o País. E reparem também que foi este «bolo» que aqui foquei que levou ao
empobrecimento dos portugueses.
Então que conclusão é que se pode retirar daqui? Na vossa perspetiva, é o empobrecimento dos
portugueses que está a salvar o País. Isto é absolutamente inadmissível! Procurar levantar um País à custa do
empobrecimento da sua população não é tolerável. Não pode ser! É por isso que Os Verdes continuam a dizer
que há outras soluções, que necessariamente têm de passar uma renegociação da dívida porque, na verdade,
este é o caminho que vai continuar a acentuar-se e tudo isto se tornará muito mais estrutural.
O que é absolutamente chocante é que as desigualdades cresceram, o que significa que os ricos tornaram-
se mais riscos e os pobres tornaram-se mais pobres e há mais pobres.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Peço-lhe que conclua, Sr. Presidente.
A Sr. ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino, Sr. Presidente.
Quer isto dizer, Sr.as
e Srs. Deputados, que o Governo andou a servir alguém, e isto tem de ficar muito
claro.
Sr. Presidente, para terminar, refiro outra questão. É inadmissível que o Governo não tenha consciência
que quem trabalha neste País empobrece. Não são só os desempregados que estão lançados na bolsa de
pobreza, quem trabalha empobrece e este é um sinal que tem de alertar alguém. Estamos no caminho errado,
é preciso pormo-nos no caminho certo e só entraremos no caminho certo quando este Governo deixar de ser
Governo.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Vieira da
Silva, do PS.
O Sr. Vieira da Silva (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados, neste
debate, a maioria várias vezes acusou esta interpelação de falta de seriedade.
Sr.as
e Srs. Deputados, seria falta de seriedade se o Partido Socialista apresentasse aqui uma situação que
não correspondesse exatamente à verdade, a qual é retratada pela imagem do País social que nos foi dada
pelo Instituto Nacional de Estatística há pouco mais de uma semana.