3 DE MAIO DE 2014
55
exclusivamente pública, orientada para o tratamento e gestão dos resíduos sólidos urbanos, e parceira das
autarquias nos sistemas multimunicipais, é uma peça da privatização desse Grupo e insere-se na linha de
desmantelamento dos serviços públicos que este Governo pretende impor às populações. Por todos os
motivos, urge travar este processo.
Em primeiro lugar, a privatização da EGF constitui uma ameaça para os direitos dos trabalhadores do
setor, que aproveitamos para saudar novamente. A passagem destes trabalhadores para uma empresa
privada, como se verificou em todas as privatizações, representará a gradual perda de direitos e significará
para as próximas gerações de trabalhadores o sacrifício do conjunto dos direitos que atualmente se verificam
nas empresas onde participa a EGF.
Em segundo lugar, a privatização da EGF representa uma traição da confiança das autarquias, que
decidiram constituir empresas e sistemas com um parceiro inteiramente público e tutelado pelo Governo.
Agora, constituídas as empresas, o Governo aliena a EGF, convertendo todas as empresas multimunicipais
maioritária ou exclusivamente públicas em maioritariamente privadas.
Em terceiro lugar, a privatização da EGF representa uma degradação da qualidade do serviço prestado, o
aumento das tarifas e o agravamento da exploração do trabalho.
A privatização da EGF é também um mau negócio, já que a empresa tem resultados positivos ao longo dos
anos, o que constitui um proveito que é destinado ao investimento nos sistemas, melhorando gradualmente a
qualidade.
Por último, a privatização representa uma degradação do papel do Estado nas políticas de ambiente e de
saúde pública e o abandono de uma visão estratégica, num setor que é fundamental para a conceção e prática
de várias políticas, desde a política do ordenamento à do ambiente.
As políticas de investimento, a estruturação do setor, a política de tratamento e gestão deixam de estar
sujeitas ao controlo público e passam a estar sujeitas aos resultados operacionais dos privados.
Tal como nas outras privatizações, parte do processo de reconfiguração do Estado e de destruição dos
serviços públicos, a privatização da EGF não tem um único motivo relacionado com o interesse público, com o
interesse do País e das pessoas.
Tal como nas outras privatizações, só há um beneficiado: o privado que compra a empresa. Se o País é
prejudicado, se as pessoas são prejudicadas e apenas uma empresa privada é beneficiada, se todos os
envolvidos estão contra, se todos os que foram ouvidos se pronunciaram contra, ao serviço de quem está este
Governo?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para apresentar o pedido de apreciação parlamentar n.º 80/XII (3.ª), do PS, tem a
palavra o Sr. Deputado Pedro Farmhouse.
O Sr. Pedro Farmhouse (PS): — Sr. ª Presidente, Sr. Ministro, Sr.as
e Srs. Deputados: Começo por
agradecer a presença dos Srs. Autarcas, num dia tão significativo como o de hoje.
No dia 30 de janeiro, quando foi anunciado que o Governo tinha aprovado o diploma para a reprivatização
da EGF, o PS disse que ia requerer a apreciação parlamentar desse diploma, porque queríamos entender
quais eram as verdadeiras razões que o Governo tinha para iniciar o processo de privatização da EGF
(Empresa Geral de Fomento), um dos principais ativos da Águas de Portugal, e por que razão é que o
Governo fazia essa privatização nesta altura.
Não percebemos quais as razões e é bom que o Sr. Ministro tenha cá vindo hoje para prestar
esclarecimentos ao País. Qual é o verdadeiro motivo, quais as principais razões por que o Governo entende
privatizar a EGF?
É que a privatização não tem o acordo das autarquias; os 174 municípios que são parceiros e clientes dos
11 sistemas multimunicipais, dos quais a Empresa Geral de Fomento é a sócia maioritária, não estão de
acordo; o plano estratégico para os resíduos sólidos urbanos não está aprovado; a taxa de gestão de
resíduos, que o Sr. Ministro dizia que era importante rever, não está revista; o próprio estatuto da entidade
reguladora para estas áreas só entrou em vigor no dia 1 de abril; o regime tarifário foi aprovado com base nos