8 DE MAIO DE 2014
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Mas não só se castigam esses setores como os desrespeitam, porque não há outra coisa a chamar à
recente atuação do Governo, em que certifica o software, as empresas compram o software e, passado meia
dúzia de dias, tira o software do mercado e acusa as empresas que o compraram de estarem a cometer
fraude. Isto não é combater a fraude! Isto é puro desrespeito por um setor de atividade importantíssimo!
Ou quando obrigam os TOC (técnico oficial de contas) a prazos para enviarem o IVA e para fazerem as
contas da restauração e depois as pessoas chegam ao site das finanças e não funciona, não lhes permitindo
pagar os impostos. Isto é desrespeito por todo um setor e pela economia!
Houve uma clara escolha ideológica, uma escolha política e uma escolha económica: atacar o setor da
restauração com mais impostos, atacar os trabalhadores e os consumidores com mais impostos. Percebo o
desconforto do PSD e, sobretudo, percebo bem o desconforto do CDS, o partido do contribuinte e dos
pequenos empresários. Percebo o vosso desconforto!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Desconforto? Nenhum!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Mas a verdade é que, perante a pressão dos grandes interesses
financeiros, perante a pressão dos interesses internacionais, perante a pressão dos interesses da troica e de
Bruxelas, PSD e CDS foram disciplinados: meteram no bolso todas as promessas que fizeram, largaram as
entidades e abandonaram aqueles setores que diziam defender, durante a campanha.
Retorno a questão: agora que não há troica quem é que vão culpar pela vossa falta de palavra?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: As políticas dos PEC (Programa de
Estabilidade e Crescimento) e da troica, que destroem o País, têm afetado particularmente as pequenas e
médias empresas. Entre estas, o setor da restauração parece ter sido definido como um alvo por parte do
Governo, pois é uma espécie de bobo da festa, em que tudo lhe cai em cima, mas sem haver soluções para os
seus problemas.
Entre as medidas que atingem este setor, o aumento do IVA é a mais vergonhosa. Ao setor da restauração
é aplicado, no nosso País, a mais elevada taxa de IVA da Europa, que em 2015 ainda subirá, por vontade do
Governo, para 23,25%.
O aumento da receita fiscal e sua importância para a consolidação orçamental é o forte argumento do
Governo e da maioria e é mais forte ainda porque não pode ser rebatido, uma vez que este Governo, desde
que entrou em funções, ainda não publicou as estatísticas do IVA.
No mesmo sentido, o Governo afirmou, em 2013, que tinha aumentado o IVA declarado. Questionado
sobre a existência de diferenças entre o IVA declarado e o IVA efetivamente cobrado, o Governo referiu que
não havia diferenças. Só em 2010 foram cobrados menos 600 000 € do que os valores declarados.
O Grupo Parlamentar do PCP requereu, em dezembro passado, informação sobre as estatísticas do IVA.
Já lá vão cinco meses e continuamos à espera de resposta!
Vale a pena lembrar que as últimas estatísticas desagregadas sobre o IVA, divulgadas pelo Ministério das
Finanças, são de março de 2011 e reportam-se ao ano de 2010. Enquanto o Governo não tornar pública a
informação sobre a receita do IVA, pode continuar a usar o seu argumento limitando a possibilidade de
contraditório.
Esta decisão e estas medidas são de tal modo gravosas que têm levado a um empenho sem precedentes
das entidades representativas do setor. Um emprenho bem visível na ação da ARESP (Associação da
Restauração e Similares de Portugal) e na persistência da apresentação de estudos e análises que
desmontam os discursos do Governo, mas também na constituição do MNER (Movimento Nacional de
Empresários da Restauração), que conseguiu uma manifestação do setor junto à Assembleia da República
sem precedentes ou na ação da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas. Por
isso, saudamos a persistência e a luta de associações, movimentos e empresários.