8 DE MAIO DE 2014
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O setor da restauração foi um dos setores que mais se ressentiu com a quebra do poder de compra dos
portugueses decorrente dos brutais aumentos de impostos e dos inqualificáveis cortes nos salários e nas
pensões impostos pelo Governo e pela troica.
Muitos portugueses, com estas dolorosas medidas, enquanto viam o dinheiro do País servir para pagar
juros agiotas, swaps, parcerias público-privadas e fraudes bancárias, deixaram de tomar refeições em
restaurantes, à hora do almoço, e passaram a fazer-se acompanhar da marmita para conseguir gerir o seu
magro orçamento.
Outros, caindo no desemprego, mais de metade sem receber subsídio de desemprego, nem puderam mais
sonhar com uma refeição tomada à mesa de um restaurante, e muitas pessoas nem marmita nem mesmo
refeição, tendo a fome começado a ser uma realidade percetível no País. Fome que, tantas vezes, temos
denunciado aqui no Parlamento ao Governo, quantas vezes com respostas quase de indiferença. Foi a este
ponto que este País chegou!
Acresce a esta dura realidade que o Governo e a maioria PSD/CDS decidiram, sozinhos, isolados, no
Orçamento do Estado para 2012, que, para além do mais, os serviços de restauração deixariam de se sujeitar
à taxa intermédia do IVA de 13% para passarem a ficar sujeitos à taxa normal do IVA de 23%. Mais um fator
de desgraça anunciado para o setor!
Ora, a desgraça da quebra do poder de compra dos cidadãos, somada à desgraça do aumento do IVA, só
podia dar num drama: o encerramento de cerca de 40 000 estabelecimentos, com a perda de cerca de 75 000
postos de trabalho.
Logo, aquando do Orçamento do Estado para 2012, Os Verdes foram fervorosos opositores ao aumento do
IVA na restauração, pois considerámos que era dos maiores erros que se podia cometer, com consequências
muito negativas para o estrangulamento da economia. Era tão óbvio, Sr.as
e Srs. Deputados!…
É que quando falamos do IVA, falamos de um dos impostos mais cegos, que incide sobre o consumo,
tornando-se especialmente gravoso e pesado para quem tem menores recursos económicos, e falamos de um
dos impostos mais recessivos, que torna tudo mais caro, retraindo e quebrando a dinâmica da economia.
Na altura, António Pires de Lima afirmou, perentório, que o aumento do IVA na restauração daria cabo da
economia e criticou o então Ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, referindo o seguinte: «Se houvesse
um Ministro da Economia com peso, o aumento do IVA na restauração não existiria».
Atualmente, António Pires de Lima é Ministro da Economia e, segundo as suas próprias palavras, um
ministro sem peso, porque já foi coautor da elaboração do Orçamento do Estado para 2014, esse orçamento
manteve o aumento do IVA na restauração e até hoje esse aumento mantém-se!
Pires de Lima chegou mesmo a afirmar que: «subir o IVA na restauração corre o risco de ser uma medida
completamente estúpida». E foi, de facto! Aliás, tem-se revelado uma medida desastrosa, porque tem sido
responsável pela insustentabilidade e pela falência de muitas micro, pequenas e médias empresas e tem
lançado milhares de trabalhadores do setor para o desemprego. Por isso, Pires de Lima dizia que: «a descida
do IVA é uma medida de grande inteligência fiscal do ponto de vista social e do emprego».
Analisando, agora, as palavras de Pires de Lima, e porque o aumento do IVA na restauração se mantém,
retiramos as seguintes conclusões: o Governo dá cabo da economia; o Ministro da Economia, ou seja, agora
ele próprio, não tem peso; o Governo promove medidas estúpidas e demonstra muito pouca inteligência.
Ora, aqui está um quadro traçado pelo atual Ministro da Economia que nos parece muito adequado para
caracterizar o Governo!
Na semana passada, o Governo deu mais uma prova disso mesmo: com a apresentação do Documento de
Estratégia Orçamental — o famoso DEO —, o Governo veio anunciar que quer aumentar ainda mais a taxa
normal do IVA de 23% para 23,25%.
Reparem bem, Sr.as
e Srs. Deputados: em Agosto de 2013, o Primeiro-Ministro afirmou que «não acredito
que o País aguente mais aumento de impostos»;…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — … agora, juntou-se ao clã daqueles que afirmam: «aguentam, ai
aguentam, aguentam!»; o Ministro dos Assuntos Parlamentares, há cerca de três semanas, disse que «não
haverá mais aumento de impostos»; poucos dias depois, o Governo estava a anunciar o aumento do IVA.