I SÉRIE — NÚMERO 81
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A Sr.ª Presidente: — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana
Mortágua, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, antes de mais, queria
cumprimentá-la por ter trazido este assunto, mais uma vez, ao Parlamento, e, ao ter trazido este assunto, mais
uma vez, ao Parlamento, por expor, também mais uma vez, a teimosia desta maioria em não descer o IVA da
restauração. Não só não desceu o IVA da restauração de 23% para a antiga taxa intermédia como ainda o vai
aumentar de 23% para 23,25%.
As consequências estão à vista, foram denunciadas pelo setor e são visíveis quando andamos pelas ruas
das vilas e cidades deste País: 40 000 empresas fecharam. Trata-se de empresas familiares, de empresas
que não são grandes, que não têm grandes lucros, que sobrevivem à custa de uma ou de duas pessoas, dos
filhos ou dos sobrinhos. Falamos de menos 1,7 milhões de euros de volume de negócio, de quase 2 milhões
de euros que se perderam para a economia, para o turismo, para as contas de uma economia sustentável e
que pode crescer, de dezenas de milhares de postos de trabalho que se perderam.
O Governo argumenta, contra isto, que pode ter havido um aumento de receita fiscal. A pergunta que
temos de fazer é se este pequeno aumento de receita fiscal, que não é claro, compensou toda a destruição
económica e social que o aumento do IVA da restauração provocou: as empresas vão à falência, as pessoas
deixam de ter capacidade para comer num restaurante. Porque, afinal, comer num restaurante está acima das
nossas possibilidades, é um luxo a que não nos podemos dar! Os trabalhadores não se podem dar a esse luxo
de comer num restaurante!
Trata-se também do IVA nas cantinas e do IVA da alimentação nos hospitais. Todos estes serviços pagam
um IVA superior e pagam o peso desta dívida e da escolha que não é feita pelo Governo.
Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, durante muito tempo, os Deputados da maioria justificavam a não descida
do IVA dizendo: «a economia está mal, as contas estão mal, não podemos descer o IVA»; agora, argumentam:
«a economia está melhor e, como a economia está melhor, então, já não faz falta descer o IVA. A economia
até melhorou!»
Sr.ª Deputada — e esta é a pergunta que lhe deixo —, afinal, não é uma questão financeira nem
económica, é uma questão ideológica. Ideologicamente, os Srs. Deputados da maioria querem atingir as
pequenas empresas, querem atingir os consumidores para poderem, em contrapartida, baixar o IRC e
aumentar os benefícios fiscais! É ou não uma questão ideológica, afinal de contas? Esta é a pergunta que lhe
deixo acerca do IVA da restauração.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, por lapso, há pouco não fiz referência à questão
colocada pela Sr.ª Deputada Hortense Martins, à qual responderei agora.
Sr.ª Deputada, agradecendo a questão, quero dizer-lhe que nós também lamentamos a ausência do
Governo neste debate, fundamentalmente, se quer a minha opinião sincera, do Sr. Ministro da Economia.
Acho que este Parlamento precisava mesmo de ouvir hoje o Sr. Ministro da Economia e de o confrontar
com aquilo que ele disse há uns tempos e aquilo que diz hoje, refugiando-se no facto de ser um elemento do
Governo e de, portanto, ter de estar orientado com as posições do Governo. Isto, de facto, não é argumento!…
Portanto, o Sr. Ministro é uma peça sem qualquer utilidade no Governo, sendo que os agentes económicos já
perceberam que contaram com aquilo que disse o Sr. Ministro quando ainda não era ministro mas que, a partir
do momento em que assumiu responsabilidades, deixou de ter voz e recuou nas suas afirmações, não
promovendo, afinal, a defesa do setor, que era fundamental.
A Sr.ª Deputada Hortense Martins, tal como a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, referiu a questão dos
despedimentos, no fundo para contrapor àquilo que o Sr. Deputado Nuno Reis mencionou há pouco, isto é, o
arrecadar de receita.