I SÉRIE — NÚMERO 84
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Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para apresentar o projeto de lei do Partido Ecologista «Os Verdes»,
tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Julgo que deve ser para
aí, talvez, a terceira vez que apresentamos este projeto de lei aqui, na Assembleia da República.
Dirão os Srs. Deputados: «Outra vez?!». Pois é! É que o problema persiste e, porque o problema persiste,
é preciso, recorrentemente, trazer a proposta para a sua solução.
A questão é que esta maioria, que, infelizmente, ainda persiste nesta Casa, em 2010 — dá-me ideia que já
estávamos em crise, não é verdade?! —, viabilizou o nosso projeto de lei, exatamente este que estamos aqui
a discutir hoje, mas, assim que se tornou maioria, deixou de o viabilizar e decidiu chumbá-lo. Isto demonstra
uma postura completamente diferente em relação à situação quando estão na oposição e quando estão na
maioria, o que não revela seriedade por parte desta maioria, a que, de resto, infelizmente, já tivemos de nos
habituar.
Sucede o seguinte, Sr.as
e Srs. Deputados: a educação, em Portugal, é extraordinariamente cara, há
famílias que não conseguem suportar os custos da educação para os seus filhos e os manuais escolares,
como todos sabemos, são um peso enorme nos orçamentos familiares, no que concerne à educação.
No mês de setembro, no início dos anos letivos, há famílias que se veem «gregas» — desculpem a
expressão, mas é mesmo assim — para conseguir adquirir o material escolar para os seus filhos, onde se
incluem os manuais escolares. E sabemos que há muitas crianças que não têm livros até uma determinada
data bem distante do início do ano letivo e há algumas que nem chegam a tê-los. Isto repercute-se,
obviamente, numa desigualdade de oportunidades que não podemos aceitar, porque são crianças e jovens
que ficam prejudicados na sua escolaridade por não deterem todo o material necessário. Às vezes, recorrem
ao empréstimo, de facto, mas ao empréstimo pelo colega.
Isto não pode ser assim, o Estado deve assumir a sua responsabilidade. E o Estado continua a não
assumir a sua responsabilidade porquê? Porque os apoios socioeducativos são, de facto, muito restritos, para
um universo muito restrito, como já hoje aqui foi falado, e há muita gente com carência real que fica de fora
desses apoios socioeducativos. O que os senhores fazem é fechar os olhos e fingir que nada se passa, que
tudo é normal.
Portanto, Sr.as
e Srs. Deputados, como não podemos aceitar esta realidade, o que é que Os Verdes
propõem? Tendo em conta que somos dos poucos países da Europa onde as famílias têm um encargo
enormíssimo com os manuais escolares, aquilo que propomos é que se instale um sistema obrigatório e
universal da modalidade de empréstimo de manuais escolares, segundo o qual as famílias que estiverem
interessadas no empréstimo manifestem esse desejo no ato da matrícula e adiram. Desse modo, o Estado
saberá, então, quantificar quais os manuais de que vai necessitar no ano letivo, porque as famílias já fizeram,
digamos assim, a sua «inscrição», por via do ato da matrícula. E as famílias que não o quiserem fazer, não o
fazem. Portanto, o Estado não vai esbanjar rigorosamente nada, vai, pura e simplesmente, dar resposta às
necessidades das famílias e à vontade das famílias, de aderirem a esse sistema de empréstimo.
Não podemos ter um Ministério da Educação que a única coisa que faz é sacrificar as famílias. A única
coisa que o Ministério da Educação faz é esta: «Deixa-me lá desresponsabilizar-me desta minha competência
da educação e deixa lá ver se desta vou passar para as autarquias ou para as famílias». Não pode ser! O
Ministério da Educação não pode existir só para descartar responsabilidades para as autarquias e para as
famílias, porque, se não, não precisamos do Ministério da Educação para nada.
Mas já estou em querer, Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, que, deste Ministério da Educação, de
facto, não precisamos rigorosamente para nada. Do que precisamos, de facto, é de ter um Governo diferente,
que responsabilize e dê vida ao Ministério da Educação, ou seja, que resolva os problemas da educação em
Portugal e não crie, constantemente, «a galope», mais e mais problemas.
Aplausos do PCP.