13 DE MAIO DE 2014
45
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para apresentar o projeto de lei do PCP, tem a palavra a Sr.ª
Deputada Paula Baptista.
A Sr.ª Paula Baptista (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A Constituição da República Portuguesa
assegura que «todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades (…) e êxito
escolar» e que incumbe ao Estado «Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito».
No entanto, todos os anos, passes, materiais, manuais escolares e alimentação são, na sua generalidade,
aumentados, tornando incomportáveis as despesas que as famílias têm com a educação das crianças e
jovens.
Os sucessivos Governos PS, PSD e CDS têm tomado medidas efetivas de agravamento dos custos da
educação, recusando propostas que permitam o cumprimento da Constituição.
Por responsabilidade do atual Governo, o preço de todos os manuais escolares, no ano letivo de
2013/2014, aumentou 2,6%, para dar cumprimento à Convenção de Preços.
Por outro lado, a ação social escolar continua a revelar-se insuficiente. Prevêem-se apenas apoios para
aquisição de manuais escolares aos alunos do escalão A, ou seja, famílias que vivem com cerca de 209 €
mensais, e do escalão B, famílias que vivem com cerca de 419 € mensais. Estes valores deixam bem visíveis
a limitação e a ineficácia destes apoios.
A par de tudo isto, o Governo procura transferir para as autarquias responsabilidades que são suas e que
devia assumir através do Ministério da Educação, pondo em causa a universalidade na distribuição dos
manuais escolares, que fica, assim, sujeita à opção e disponibilidade financeira dos municípios.
Salienta-se ainda que, como o PCP tem vindo a sublinhar, o aumento da escolaridade obrigatória impõe a
criação de condições para a sua frequência, sendo a gratuitidade integral dos manuais um elemento
fundamental para esse objetivo.
Perante um diagnóstico social e económico que se agudiza, o PCP entende ser da maior justiça o projeto,
que mais uma vez apresenta, do regime de certificação e adoção dos manuais escolares, garantindo a sua
gratuitidade, pela resposta cabal que dá aos problemas económicos das famílias quer quanto ao preço, quer
quanto à qualidade dos manuais escolares.
E porquê? Primeiro, porque assegura a universalidade do acesso aos manuais escolares, garantindo a sua
gratuitidade e dando cumprimento à Constituição.
Segundo, porque apresenta um conjunto de procedimentos de avaliação, seleção, certificação e adoção
dos manuais escolares como instrumentos didático-pedagógicos.
Terceiro, porque este projeto dá resposta particular à adoção de manuais de iniciação à escrita e à leitura
dos alunos com necessidades educativas especiais.
Este projeto, que representa um acréscimo residual de despesa no orçamento do Ministério da Educação
de cerca de 2%, terá significativo impacto nas condições de frequência, na melhoria da qualidade de ensino e
na redução do abandono escolar prematuro. Assuma-se aqui que a educação é um investimento, não são
«gorduras» do Estado.
A proposta do PCP em nada prejudica a criação de bolsas de empréstimo de manuais escolares, mas
assume, com coragem, que a solução para o problema dos custos com manuais escolares que hoje as
famílias e os estudantes enfrentam apenas pode ser alcançada, garantindo igualdade de condições a todos os
estudantes, se estiver assegurada a universalidade da gratuitidade dos manuais escolares.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Baptista (PCP): — O projeto que apresentamos é um contributo sério para a defesa da escola
pública, democrática, gratuita e de qualidade, para o cumprimento da Constituição, para o desenvolvimento do
País. Mas é também uma oportunidade para passar das preocupações do discurso à prática, uma
oportunidade para que todos os que se dizem preocupados com o rumo da educação, com a pobreza e as
desigualdades sociais assumam consequências dessas preocupações, que tantas vezes aqui sublinham,
votando favoravelmente o nosso projeto.