I SÉRIE — NÚMERO 87
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Srs. Deputados, em 2006, a União Europeia lançou o desafio aos Estados-membros para que
aprofundassem o mercado interno no domínio dos serviços, melhorando toda a legislação, através de uma
simplificação administrativa, que pudesse acarretar, desde logo, uma diminuição de custos e uma maior
concorrência no setor.
Portugal iniciou em 2010, portanto, com algum atraso, esse processo de transposição da diretiva e foi,
essencialmente, este Governo que avançou com a maior parte das transposições, da adaptação da legislação.
Ainda hoje o ponto anterior da ordem de trabalhos foi precisamente o da discussão de uma adaptação na
sequência de uma diretiva de 2006.
Temos duas propostas para a área de construção, área esta que é uma das mais fustigadas pela crise
económica e financeira que atravessámos nos últimos anos e que merece toda a nossa atenção pelas
consequências diretas que tem no setor.
A proposta de lei n.º 226/XII dirige-se essencialmente ao setor em si, como um todo, mas é preciso realçar
dois aspetos. É que é uma lei que importa não só aos profissionais do setor mas a todos os portugueses.
Porquê? Porque nela são disciplinados direitos e obrigações dos donos de obra. Ora, ao longo da vida, de
forma maior ou menor, de forma mais direta ou menos direta, todos passamos por essa qualidade, todos
temos necessidade de contratar esta ou aquela obra. Por isso, é necessário encarar a lei com esta
preocupação: não é uma lei apenas para o setor, é uma lei que diz respeito a todos os portugueses, a cada
um de nós, e que merece a nossa atenção.
Por seu lado, a proposta de lei n.º 227/XII diz diretamente respeito aos profissionais mais qualificados desta
atividade, o que também merece o nosso cuidado.
Esta área tem sido muito debatida neste Parlamento. A este propósito, o Sr. Deputado Rui Paulo
Figueiredo disse que tem recebido muitos pedidos de audições sobre esta matéria e devemos dar-lhes o
nosso acolhimento.
Concluo, Sr. Presidente, dizendo que é um desafio para o qual a maioria está disponível, é um desafio que
iremos acolher, mas não deixo de realçar que o Governo teve o cuidado de, na fase prévia, ouvir todas as
entidades mais representativas do setor e a versão que nos apresenta já acolhe, no essencial, esses
contributos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Srs. Secretários de Estado: O PCP
bem dizia que esta saída da troica não era saída nenhuma, muito menos saída limpa. E se dúvidas houvesse,
aí estão estas propostas do Governo a demonstrar que, se nada for feito, prosseguem as políticas e as leis a
«toque de caixa», no mesmíssimo sentido da destruição e submissão da economia nacional e do
desenvolvimento ao poder dos monopólios.
Ora, importa desde já sublinhar que, neste País, a realidade do sector da construção não se resume aos
grandes grupos económicos que vão fazendo negócio por outros continentes. Pelo contrário, é uma realidade
largamente constituída por micro, pequenas e médias empresas, que têm sido verdadeiramente esmagadas
por estas políticas e estes governos, e que são ainda mais prejudicadas por estas propostas.
Mais uma vez, o Governo invoca a sacrossanta Diretiva «Serviços» para levar mais longe do que nunca
este caminho de liberalização do sector, deixando-o à mercê das multinacionais, quer no regime aplicável às
empresas quer aos técnicos responsáveis.
Mas, desta feita, a política de campo aberto nem se fica sequer pelas transnacionais europeias — alarga-
se a todo o espaço da OMC (Organização Mundial do Comércio). É, aliás, a consagração de uma prática
habitual deste Governo, que teve como exemplo mais recente a adjudicação das obras de conservação das
estradas, em 16 dos 19 concursos realizados, a uma multinacional de capitais indianos.
O Governo trata de forma igual aquilo que é diferente e coloca no mesmo plano as pequenas empresas e
os grandes grupos económicos, designadamente no regime sancionatório, onde as coimas se determinam
independentemente da dimensão e volume de negócios, ou na «capacidade económica e financeira», que,