I SÉRIE — NÚMERO 89
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Em segundo lugar, o PS demarca-se de várias soluções propostas pelo Partido Comunista. Por exemplo, o
PCP pensa que pode continuar a defender o repúdio unilateral do pagamento da dívida pública ou a defender
que um País se prepare para a saída do euro sem explicar aos portugueses as consequências de tais atos.
As posições enunciadas pelo PCP significam um aventureirismo próprio de quem, na verdade, não tem um
projeto de governação e, por isso, se sente dispensado de confrontar as suas propostas com a realidade.
Por contraposição à atitude insurrecional do Partido Comunista, o Partido Socialista sabe que a integração
na União Europeia e na área do euro obriga a cumprir compromissos coletivos. No entanto, por contraposição
à atitude subserviente do Governo, o Partido Socialista sabe que essa realidade não lhe traz apenas deveres
mas também direitos; sabe que um Estado-membro não é chamado apenas a cumprir compromissos, mas
também a moldá-los e a construí-los.
O Partido Socialista tem consciência de que o atual quadro europeu — que se cristalizou nos últimos anos,
enquanto o atual Executivo governava Portugal e representava o País nas instâncias comunitárias — reduz a
margem da autonomia política futura; e tem também consciência de que a conjuntura económica europeia que
se perspetiva para o futuro é particularmente adversa para a recuperação de economias com elevado nível de
dívida pública e privada, com elevados défices de investimento público e privado e imperiosa necessidade de
reduzir o nível de desemprego.
É por isso que o Partido Socialista sabe que a melhoria das perspetivas de crescimento económico no
futuro passa pela renegociação das condições da inserção no espaço europeu, não apenas de Portugal mas
de outros países em circunstâncias semelhantes, razão pela qual é essencial saber construir alianças a nível
europeu. E aqui o PS e o seu Secretário-Geral têm dado provas cabais, não apenas dessa capacidade mas
também do empenhamento e do envolvimento, da liderança até, em propostas que hoje fazem caminho no
seio da própria União Europeia.
Aplausos do PS.
Assim, o Partido Socialista defende que a sustentabilidade social, económica e financeira do País depende
de uma renegociação das metas inscritas na trajetória orçamental; de uma renegociação das condições de
pagamento da dívida pública aos credores oficiais; de uma mutualização progressiva de certas parcelas das
despesas sociais; e de uma renegociação dos pilares da arquitetura institucional e financeira da zona euro, a
começar pelo mandato do Banco Central Europeu.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Com frontalidade democrática
reafirmamos as divergências, aliás, conhecidas.
O Governo merece censura pelas suas reiteradas políticas de empobrecimento, como os eleitores, aliás, já
o afirmaram. Por isso, o PS junta o seu voto à censura dos eleitores.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Menezes.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e
Srs. Deputados: Com o decorrer deste debate podemos dizer, com certeza, quais são os objetivos desta
moção. São eles: em primeiro lugar, derrubar o Governo; em segundo lugar, sufragar uma alternativa clara,
política e programática.
Começando pelo segundo ponto, o PCP pede uma renegociação da dívida, o rejeitar do tratado orçamental
e preparar a saída de Portugal do euro.
Ora, numa altura em que temos dos juros mais baixos da nossa história, o PCP e quem votar
favoravelmente esta moção querem deitar este capital a perder com a renegociação da nossa dívida.
O PCP pede também a rejeição do tratado orçamental. Um tratado orçamental que nasce para defender a
União Europeia da irresponsabilidade. Um tratado orçamental que pretende defender a solidariedade entre
gerações, evitando que haja umas a gastar e outras gerações a pagar. Um tratado orçamental que,
relembrando, o PS votou favoravelmente e que agora parece que se prepara para renegar esse mesmo
tratado orçamental.