31 DE MAIO DE 2014
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Se o Governo se vangloria de ter reduzido os desequilíbrios externos sem perceber que tal só foi possível
pelo aumento dos desequilíbrios internos — a começar pela explosão do desemprego —, então, não percebeu
nada!…
Se o Governo pensa que as taxas de juro dos títulos da dívida desceram porque se reduziu o défice
orçamental, sem compreender como funciona a relação entre um banco central e os mercados financeiros,
não percebe mesmo nada!…
E se o Governo se regozija por ter, alegadamente, tornado as finanças públicas sustentáveis sem levar em
linha de conta que um país mais pobre e mais endividado está em piores condições para pagar a sua dívida,
então, não percebe rigorosamente nada!…
Aplausos do PS.
A menos de um mês de se completarem três anos da entrada em funções deste Governo, os portugueses
têm perfeita consciência do estado do País: um País mais pobre, pela acentuada redução de rendimentos que
as famílias sofreram; um País mais endividado, pelo aumento sem precedentes da dívida pública; um País
mais velho, pela emigração dos jovens que o País ajudou a formar; e um País menos competitivo, pela
deterioração acentuada do stock de capital humano e de capital físico. Se o Governo pensa que um País
nestas condições está mais preparado para enfrentar os desafios futuros — não apenas os financeiros, mas
os económicos e os sociais —, então, não percebeu mesmo nada.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Muito bem!
O Sr. António Braga (PS): — É por isso que este Governo, com a sua estratégia de empobrecimento, com
a sua análise errada do que se passou nos últimos três anos e a sua atitude de revanchismo histórico e
institucional, deve ser censurado.
Aplausos do PS.
Acresce, Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo e Srs. Deputados, que há no seio deste Governo uma
tentação permanente pelo uso abusivo do poder, que leva ao confronto com as instituições e com outros
órgãos de soberania em resultado da incapacidade de compreender que em democracia todo o poder é
limitado, que a legitimação democrática supõe e exige a legitimação social e constitucional.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. António Braga (PS): — Sr.ª Presidente, se é certo que o Governo merece censura, distanciamo-nos
totalmente dos principais elementos fundantes dos considerandos da moção de censura do PCP, por razões
de verdade histórica e de divergência política.
Vozes do PSD: — Ah!…
O Sr. António Braga (PS): — Em primeiro lugar, veja-se o diagnóstico da história recente do País. Se,
como se diz na parte introdutória da moção de censura aqui em discussão, os últimos 37 anos de «política de
direita» trouxeram «retrocesso económico e social», não faria sentido que PCP fizesse a vigorosa defesa de
conquistas institucionais — como a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde ou a segurança social pública
—, que não apenas foram concretizadas ou aprofundadas depois de 1977 como a respetiva construção se
deve, aliás, em grande medida, a vários Governos do Partido Socialista.
Aplausos do PS.