31 DE MAIO DE 2014
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nada com o FMI, mas, como solução para a questão da dívida e do problema que o País atravessa, o PCP
propõe sentar-se à mesa dos nossos parceiros internacionais, sentar-se à mesa da Europa que desdenha,
sentar-se à mesa do FMI que desdenha, procurar obter acordos e renegociar a dívida. Claro que concluo que
a cabeça desta renegociação seria o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa. Portanto, seria o Sr. Deputado
Jerónimo de Sousa que se sentaria com os parceiros europeus, que se sentaria com a troica, que se sentaria
com o FMI, que se sentaria com a banca, para renegociar a dívida. É, de facto, uma coisa muito estranha!
Outro aspeto estranho, que, aliás, também retirei da campanha eleitoral, é a proposta de saída do euro. É
que, observada a campanha eleitoral, havia mais partidos que propunham a saída do euro. E, curiosidade
estranha ou não, encontramos o PNR, o Partido Nacional Renovador, que defende exatamente a mesma
solução que o Partido Comunista, isto é, a saída do euro. E aqui podemos concluir pela estranheza que existe
no facto de os extremos se tocarem.
Mas, nesta questão da saída do euro e da moção de censura, para terminar, é de sobrelevar a posição do
Partido Socialista. Parece-me óbvio que o Partido Socialista se precipitou, depois arrependeu-se e agora força
uma decisão, que é a de votar favoravelmente a moção de censura do Partido Comunista, com os termos e
fundamentos que são propostos. É, sem dúvida, uma inovação. Quiçá, talvez o Sr. Secretário-Geral do Partido
Socialista, quando vier para este debate, quando acabar as conferências de imprensa, o debate que está a
fazer com o País, lá fora, através da comunicação social,…
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — O que é que o senhor tem a ver com isso?
O Sr. Miguel Santos (PSD): — … quiçá o Sr. Secretário-Geral do Partido Socialista, quando vier para este
momento importante do Parlamento e da Câmara, possa esclarecer-nos qual foi o fenómeno de deslizamento
político da posição do Partido Socialista.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Também para formular as suas perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado António
Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, significativamente, disse aqui que
contava com o apoio da maioria parlamentar, não disse que contava com o apoio do povo português. E não
disse, porque não podia, porque, sabendo dos resultados eleitorais do passado dia 25, sabia que não podia
dizer uma coisa dessas.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Mas o Sr. Primeiro-Ministro refugiou-se numa caricaturização grotesca
daquilo que seriam as propostas do PCP, falsificando, intencionalmente, aquilo que o PCP efetivamente
propõe e tem vindo a defender. E, aliás, foi bem secundado por outros Srs. Deputados.
O que o Sr. Primeiro-Ministro bem faria era aceitar uma discussão séria, no País, envolvendo o povo
português, sobre as reais consequências das opções que foram tomadas nos últimos anos, em matéria de
integração europeia. Mas isso os senhores não fazem, porque recusaram a possibilidade de os portugueses
tomarem uma decisão soberana sobre se queriam ou não entrar na moeda única.
O Sr. Primeiro-Ministro faz por ignorar que, na União Europeia, há 10 Estados-membros que não estão na
zona euro, que são o Reino Unido, a Suécia, a Dinamarca e mais sete países. E faz por ignorar que o único
processo de integração regional que se traduziu na abdicação de uma moeda única, por parte dos Estados-
membros, foi a zona euro. Mais nenhum país do mundo, em vários processos de integração regional que se
têm vindo a desenvolver, abdicou de ter a sua moeda própria. Mais: se fôssemos ver o que foi dito aqui, em
1992, aquando da ratificação do Tratado da União Europeia, as prevenções que o PCP fez relativamente a
consequências negativas que decorreriam desse processo de integração, os senhores, hoje, teriam de nos dar
razão e, por isso, fogem a esse debate.