I SÉRIE — NÚMERO 89
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — A clamorosa derrota sofrida pelo PSD e pelo CDS-PP nas eleições
para o Parlamento Europeu do passado dia 25 de Maio — o pior resultado de há 40 anos a esta parte, em
todas as eleições — representa uma poderosa manifestação da vontade do povo português em interromper
este caminho de desastre e não há encenação própria ou alheia que possa disfarçar tal derrota e tal facto.
Aplausos do PCP.
Uma severa derrota perante a qual a Assembleia da República não pode permanecer alheia, porque ela
demonstra, com total clareza, uma ampla censura popular a este Governo e à sua política, uma censura a que
esta iniciativa do PCP que hoje debatemos pretende dar tradução institucional.
Uma censura a um Governo e a uma política de catástrofe económica e social que fazem do período de
vigência do XIX Governo Constitucional o tempo mais negro da vida democrática no nosso País.
Isso é bem visível no rasto de violência e drama que hoje é deixado na vida dos portugueses, na sua ação
destruidora de vidas e de recursos.
Um rasto de violência, destruição e drama que é o resultado da aplicação de um pacto de agressão
imposto pela troica nacional e estrangeira, das próprias opções políticas deste Governo PSD/CDS-PP e das
orientações e opções políticas de uma União Europeia que, no seu conjunto, consubstancia um vasto
programa ao serviço do grande capital nacional e transnacional e do diretório de potências da União Europeia.
Um rasto de violência, destruição e drama que se expressa numa galopante aniquilação do tecido
produtivo, que conduziu milhares e milhares de empresas à falência, quase 100 000; no desemprego brutal e
massivo, mais de 670 000 desempregados e 470 000 empregos destruídos nestes últimos três anos; na
emigração diária de milhares de portugueses, mais de 200 000 neste período; no aumento da exploração do
trabalho; num acelerado processo de empobrecimento de milhões de portugueses; no alastramento da
pobreza, mais 600 000 novos pobres; na violação dos direitos constitucionais mais elementares, seja nas leis
do trabalho, seja na garantia do direito à saúde, à segurança social e à educação.
Uma obra de destruição que conduziu a um aumento desmesurado da dívida e dos seus encargos.
Tudo para garantir pacotes milionários de apoio à banca e assegurar milhares de milhões de euros aos que
especulam com a dívida portuguesa, com as PPP, com os swap. Tudo para manter privilégios ao grande
capital, como o testemunha o escandaloso volume de benefícios fiscais concedidos e à redução de impostos
sobre os rendimentos de capital.
Portugal é hoje, inquestionavelmente, ao contrário do que afirma a propaganda do Governo, um País mais
frágil, mais pobre, mais dependente e também mais desigual e injusto, e pior ficará a manter-se este Governo
e esta política.
É esta a verdadeira situação do País e não a mistificada realidade que a propaganda governamental
constrói e que anuncia «milagres económicos» para iludir as consequências concretas na vida de milhões de
portugueses de uma política de empobrecimento do povo e de ruína do País.
Uma política que este Governo pretende continuar a coberto da fantasiosa historieta da «saída limpa» e
que tem, ela também, por objetivo iludir a existência de um projeto que visa manter o País amarrado à
situação de subalternidade e dependência, quer pela via da extensão de novos compromissos com a troica
estrangeira, quer pela via de outros instrumentos de dominação da União Europeia, designadamente por via
do tratado orçamental que o PS, o PSD e o CDS aprovaram, apoiam e ambicionam utilizar para perpetuar a
mesma política que nos conduziu à crise.
O Sr. António Filipe (PCP). Exato!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — A ameaça da eternização desta política de destruição das condições
de vida de milhões de portugueses é real e só por si justificaria esta nossa iniciativa e a consideração da
demissão do Governo e a convocação das eleições.
Uma demissão tanto mais imperiosa quando, para lá da cortina de propaganda, o País continua hoje a
afundar-se sob o peso de uma dívida insustentável, que atinge agora 132,4% do PIB, e, em particular, o