31 DE MAIO DE 2014
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regresso a novas quebras da economia no último trimestre (de 0,7% em cadeia) e que confirmam que o atual
rumo só pode conduzir ao abismo económico e social.
É essa perspetiva de afundamento nacional e de regressão económica e social que se apresenta para o
futuro nos próximos 25 anos, a manterem-se as atuais orientações e a política de submissão perante a troica,
os mercados financeiros e os ditames da política monetária e orçamental da União Europeia. Mais 25 anos de
contínuo empobrecimento, como já tem admitido o próprio Presidente da República e como o indicia e
explicitam as recentes decisões do Governo, seja na «estratégia de médio prazo» aprovada pelo Governo,
seja no Documento de Estratégia Orçamental 2014-2018, seja no chamado Guião para a Reforma do Estado.
Hoje, mais do que nunca, é a permanência do atual Governo e o prosseguimento da sua política de
submissão que põe em causa o futuro do País.
Não há campanha de mistificação que possa ocultar o caminho da perpétua condenação do País à
dependência e do povo ao empobrecimento que este Governo quer impor.
Um caminho que passa por tornar definitivos os cortes dos salários, das pensões e dos apoios sociais, que
apresentaram como temporário; pela imposição de mais impostos sobre os trabalhadores e o povo, de que é
exemplo o aumento da TSU e do IVA; pela imposição de um modelo económico assente em baixos salários e
no trabalho precário; por novas alterações para pior às leis laborais, designadamente facilitando
despedimentos e fragilizando a contratação coletiva.
É um caminho que passa pelo ataque ao direito à reforma, com a sua nova contra reforma do sistema de
pensões, pelo ataque aos serviços públicos e às funções sociais do Estado, que passa pelo estrangulamento
da atividade dos pequenos e médios empresários e dos pequenos e médios agricultores; pela alteração à Lei
dos Baldios; pela alienação da capacidade produtiva nacional e pela transferência para o grande capital
nacional e transnacional de empresas e sectores estratégicos, no quadro de um crescimento económico
quanto muito residual e de uma taxa de desemprego insuportável.
Portugal e o povo português estão a braços com um Governo que, assumindo uma política de subversão
do regime democrático, de confronto com a Constituição da República Portuguesa e de chantagem perante o
Tribunal Constitucional (como ainda anteontem fez o Primeiro-Ministro) põe em causa o regular funcionamento
das instituições democráticas.
Aplausos do PCP.
A apresentação da presente moção de censura ao Governo assenta na nossa profunda convicção de que
Portugal não está condenado à ruína nem à dependência, que é possível assegurar, com outra política, a
soberania e a independência do País e o seu desenvolvimento, capaz de assegurar a elevação das condições
de vida dos trabalhadores e do povo, uma outra política que exige a rutura com a política de direita em
Portugal e com os eixos fundamentais do processo de integração capitalista europeu.
Uma rutura que urge e que se impõe com um imperativo e uma condição para abrir o caminho à construção
de uma verdadeira política alternativa e construir a verdadeira alternativa, patriótica e de esquerda de que o
País precisa.
Uma política que, afirmando os interesses do povo e do País e a decisão soberana do povo português, se
baseie em seis opções fundamentais, nas quais se incluem, entre outras: a renegociação da dívida; a defesa e
o aumento da produção nacional, a recuperação para o Estado dos sectores estratégicos indispensáveis ao
apoio à economia; a valorização efetiva dos salários e das pensões e o explícito compromisso de reposição de
salários, rendimentos e direitos sujeitos ao saque.
Uma política patriótica e de esquerda que retome os valores de Abril e que dê cumprimento ao projeto de
progresso e de justiça social que a Constituição da República Portuguesa consagra.
Certos de que esta moção de censura traduz o sentimento popular de rejeição da política de direita e do
Governo que a executa e corresponde à exigência de uma política patriótica e de esquerda, necessária para o
futuro de progresso e desenvolvimento do País, aqui, mais uma vez, reafirmamos que não há soluções que se
imponham para todo sempre contra a vontade dos povos. Não há soluções que resistam à sua continuada e
persistente luta.
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!