5 DE JULHO DE 2014
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Propõe, o Partido Socialista, um projeto de resolução que, na prática, é uma proposta de adesão. Mas não
é uma proposta de adesão qualquer. Na verdade, é um contrato de adesão que, na parte resolutiva, propõe
quase tudo o que já existe e carregado de lugares comuns que só podem motivar, evidentemente, um
consenso generalizado. É mais ou menos o mesmo que dizer que todos devemos viver melhor — só falta ao
Partido Socialista dizer como!
Propõe, ainda, o Partido Socialista um projeto de lei que visa dar cumprimento às recomendações dirigidas
pelo Grupo de Estados Contra a Corrupção, do Conselho da Europa. Mas pasme-se, anote-se: é um texto
igualzinho ao que o PSD apresentou no ano passado,…
O Sr. José Magalhães (PS): — Igualzinho, não!
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — … que está em discussão na especialidade e em audição no grupo
de trabalho.
Temos de ser factuais: não é bem igual. Peca por defeito, é um bocadinho pior.
É caso para dizer que estas iniciativas do PS — apesar, evidentemente, do seu mérito — quase se podem
enquadrar naquele tipo de debate político que visa marcar a agenda e pouco ou nada acrescenta. Diria que
esta iniciativa do PS é, ao fim e ao cabo, uma iniciativa de Pirro.
Já o disse, e quero aqui repetir, que o combate à corrupção e o patrocínio da transparência fazem-se sem
oportunismo e sem tacticismo. E não vale a pena tentar fazer parangonas ou capas de jornais. O PS pretende
marcar a agenda mas, na verdade, não acrescenta nada à vida dos portugueses.
A verdade é que os projetos do PS padecem, cada um, do seu próprio vício: um, não é original, é cópia e,
como toda a cópia, é pior que o original; outro, pretende ser uma reforma encapotada de uma lei estabilizada e
há muito consensualizada; por fim, o terceiro, ao qual falta, evidentemente, concretização e a forma, a
proposta de resolução, é, na verdade, um contrato de adesão.
Sr.ª Presidente, estamos, julgo eu, todos cientes de que o fenómeno da corrupção tem efeitos
devastadores, seja porque mina a confiança do cidadão — e sem confiança não se concretiza o princípio do
Estado de direito democrático —, seja porque, do ponto de vista económico, vicia a livre concorrência e a
eficiência produtiva de uma economia que se quer de sucesso. Trata-se, pois, de uma batalha da qual nenhum
grupo parlamentar se deve eximir, antes, devemos fazê-la todos e em conjunto.
É por isso que hoje aqui reafirmamos o nosso compromisso e nos comprometemos em encontrar soluções
legislativas que vão ao encontro dos verdadeiros anseios dos portugueses. Compete-nos contribuir para uma
sociedade mais justa, para um regime democrático verdadeiramente aberto, assente nos pilares da
transparência, da participação e da colaboração.
E é aqui, Sr.as
e Srs. Deputados, que a Assembleia da República tem um papel fundamental como órgão
legislativo máximo e de representatividade política da expressão popular por excelência.
Sempre que o País se indigna, e tantas vezes com razão, com o que aparenta ser um qualquer sentimento
de impunidade, devemos todos, mas mesmo todos, olhar as causas e apontar caminhos. Vamos, por isso,
continuar a trabalhar no grupo de trabalho criado no seio da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos,
Liberdades e Garantias, com todos os grupos parlamentares, para encontrar, de forma cuidada, rigorosa e
responsável os melhores mecanismos que visem estes objetivos.
Mas há, Sr.as
e Srs. Deputados, um compromisso de que o PSD não abdica. Há algo que não deixamos
para trás. Voltamos, hoje, aqui, nesta Câmara, a reafirmar que queremos criminalizar o enriquecimento ilícito,
como mecanismo fundamental no combate à corrupção. É nosso compromisso e sobre ele estamos já a
trabalhar.
Aplausos do PSD.
Termino como comecei: este é um caminho que convoca todos. É um caminho que deve gerar consensos
e deve motivar a nossa determinação.
O Sr. José Magalhães (PS): — Um dia destes!…