5 DE JULHO DE 2014
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A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Magalhães, quero cumprimentá-lo pela
sua intervenção, reconhecendo este recente ensejo de transparência vindo do Partido Socialista, que nos
últimos dias tem tido algumas notas importantes. Hoje é sobre as questões da Administração e a sua relação
com os cidadãos, no passado recente diziam respeito, segundo declarações do Sr. Secretário-Geral do PS, à
necessidade absoluta de separar negócios e política, com esse enunciado de que o Partido Socialista, afinal,
está disponível para alterar a lei das incompatibilidades dos Deputados e demais cargos públicos.
E eu até fico com a vontade de lhe perguntar, aqui, neste espaço de debate, e dado que é de transparência
que falamos, se V. Ex.ª corrobora estas posições quando, no passado, nos disse, no quadro do debate sobre
a lei das incompatibilidades dos Deputados, que não era a hora de fazer essa discussão. Não se fazia essa
discussão no quadro das eleições, não era tempo. O Governo estava com a cabeça, enfim, perdida e não era
tempo de os Deputados serem contagiados pela cabeça perdida do Governo.
Aproveito esta oportunidade para lhe perguntar se, dadas estas recentes iniciativas, o PS se encontra
duplamente contagiado pelas eleições europeias e pelas eleições internas.
Neste sentido, relativamente a esta discussão muito concreta, e com base nas iniciativas que aqui trouxe,
quero dizer-lhe que acompanhamos os princípios norteadores deste debate — transparência absoluta, passos
fundamentais que é necessário dar, e estamos, inclusivamente, disponíveis para ir bem mais longe.
Também nesse sentido, relativamente às iniciativas que estamos hoje a debater, gostaria que nos ajudasse
a perceber qual é a novidade. Qual é a novidade destas iniciativas? É preciso que este debate seja claro para
quem nos ouve e que não seja hermético, aqui fechado nas paredes e na conversa entre Deputados e
Deputadas.
No que à declaração para a abertura da transparência parlamentar diz respeito, esta iniciativa do PS tem
um conjunto de princípios muito relevantes, que nós só podemos subscrever, é facto, mas o Sr. Deputado
reconhecerá que alguns desses enunciados, para não dizer muitos, estão já em prática. Assim, pergunto-lhe
objetivamente, nomeadamente em relação ao n.º 24, por exemplo, que diz respeito à transparência do
património dos Deputados e à garantia da sua integridade, até onde está o PS disponível para ir? O que
significa, exatamente, a subscrição de todos estes pontos, nomeadamente deste? Nós achamos que é preciso
ir muito mais longe! Achamos, inclusivamente, que a declaração de interesses que entregamos ao Tribunal
Constitucional, com a reserva dos dados privados, deveria ser tornada pública.
Os senhores estão disponíveis para dar conta do trabalho não remunerado dos parlamentares? Nós
entendemos que é hora de dar conta do trabalho remunerado da atividade parlamentar.
Portanto, pergunto-lhe, exatamente, neste conjunto geral de princípios, muito importantes e que
subscrevemos, até onde é que o PS quer ir, tal como em relação às recomendações do GRECO (Grupo de
Estudo de Combate à Corrupção do Conselho da Europa), muito importantes e que saudamos, pois não
poderíamos fazer de outra maneira.
Enfim, já fizemos este debate em Plenário, muitos dos enunciados e dos artigos propostos na iniciativa do
PS já foram aqui aprovados por unanimidade, através de um projeto de lei do PSD. Nesse sentido, é
importante que se perceba exatamente qual é a dimensão de uma iniciativa num quadro de recomendações já
aprovadas, se esse trabalho não poderia ser, por exemplo, um trabalho de especialidade. É uma pergunta.
Finalmente, em relação ao projeto de lei n.º 600/XII (3.ª), dizemos sim, com certeza, à Administração
aberta, estamos absolutamente de acordo. Trata-se de um projeto com ideias muito interessantes, tais como o
portal da transparência.
É evidente que há muito trabalho a fazer em defesa dos direitos dos cidadãos e de acesso aos dados
administrativos, é certo. Nós temos um entendimento diferente, até achamos que as duas comissões hoje
deveriam dar, porventura, lugar a um órgão único, mas a pergunta que lhe faço é como é que o PS se revê …
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — E vai colocar a questão, não vai, Sr.ª Deputada? È que o seu tempo
já terminou.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Para concluir, pergunto como é que o PS se revê quando revoga a lei de
acesso aos dados administrativos, piorando-a substancialmente? E como é que se revê numa comissão que
mantém, dando-lhe outro nome e que, na verdade, em nome da transparência, deveríamos estar a discutir
com toda a seriedade.