I SÉRIE — NÚMERO 94
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perceber-se que dos vários países sob programa, apesar de tudo, em Portugal a queda do produto interno que
se verificou foi a menor dos vários países e foi onde as medidas de consolidação tiveram uma maior
progressividade, ou seja, menos acentuaram a desigualdade entre ricos e pobres. E isto com as dificuldades
que estas medidas sempre implicam, porque não há soluções fáceis.
Sr. Deputado Pedro Jesus Marques, ouvi-o relativamente às intenções do Partido Socialista. Não fossemos
nós ter sentido na pele o que é que isso quer dizer e onde é que nos leva até nos podia parecer bem, mas, Sr.
Deputado, depois de vários anos a aumentar a despesa pública, a fazer investimento público não reprodutivo,
a contribuir, só em 2009 e 2010, com 15 pontos percentuais para o aumento da dívida a partir do défice
primário — está no documento, na análise do Conselho das Finanças Públicas —, esse caminho, que nos
levou à beira da bancarrota e ao terceiro pedido de programa de assistência desde que estamos em
democracia, essa trajetória, Sr. Deputado, já sabemos como acaba, e os portugueses não a querem e não a
merecem. Portanto, tem de haver um caminho alternativo que nos conduza a um resultado melhor.
Sr. Deputado Miguel Tiago, sobre a carta de intenções e os cortes de salários não vale a pena perguntar
que cortes é que vamos fazer nos salários, pois antes de vir para o Parlamento, e na sequência da reunião do
Conselho de Ministros, anunciei qual foi a decisão tomada hoje, que passará por uma discussão com os
sindicatos. Não vale a pena estar aqui a querer criar a ideia que é mais do que é. Foi anunciada a intenção de
propor novamente o restabelecimento das reduções salariais que vigoraram entre 2011 e 2013 e que tinham
sido introduzidas pelo Governo anterior, com a sua reversão gradual a partir de 2015.
A tabela remuneratória única não implica qualquer perda salarial, portanto não vale a pena continuar a
repetir as perguntas para induzir a dúvida quando o Governo foi claríssimo a explicar aquilo a que se propõe,
precisamente porque acreditamos que as finanças públicas sustentáveis são uma condição essencial para o
crescimento. De facto, há dificuldades na retoma a nível mundial, não é só em Portugal, mas mesmo com
essas dificuldades estamos hoje claramente numa situação bem melhor do que aquela em que estávamos em
2011, quando este Governo tomou posse.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: O
maior mito sobre a austeridade é que os sacrifícios foram iguais para todos. Não é verdade! Quando se tira o
rendimento social de inserção a uma família, quando se tira o único subsídio de desemprego que uma família
tem, quando se corta na reforma do avô ou da avó que sustenta os filhos e os netos na escola, não é verdade
que essas pessoas façam os mesmos sacrifícios que uma pessoa mais rica ou quando um banco paga um
imposto de mais 100 € ou 200 €.
Os sacrifícios não foram iguais. Aqueles que eram mais pobres sofreram mais com os sacrifícios.
Vozes do PSD: — Menos!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — E sabem porquê, Srs. Deputados? Porque, infelizmente, há gente muito
pobre neste País para quem 20 € contam muito mais do que 200 € no bolso de muitos ricos. Esta é a diferença
no peso dos sacrifícios.
Mas saídas limpas também houve, nós sabemos bem. Temos os exemplos de Victor Gaspar, ex-Ministro
da Finanças, que teve uma saída limpinha para o FMI, onde nem paga imposto pelo salário que recebe e o do
ex-Ministro da Economia Álvaro Santos Pereira, que teve uma saída limpinha para a OCDE. Saídas limpas,
conhecemo-las bem!
E agora chegamos ao cúmulo de nos anunciarem uma carta apresentada ao FMI, que não tem qualquer
validade, porque o Tribunal Constitucional chumbou as suas medidas, o Governo diz que dispensa a última
tranche do FMI e da troica, mas a Sr.ª Ministra vem aqui dizer que todos os compromissos desta carta sem
validade são para valer.
Pré-troica, pós-troica, o que é que mudou? O ajustamento é o mesmo, os cortes são os mesmos, os
compromissos são os mesmos! O que é que mudou? Para quê tanto discurso, tanta garrafa de champanhe