I SÉRIE — NÚMERO 101
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Isto prova que sucessivos Governos do PS, do PSD e do CDS têm recorrido ilegalmente à precariedade
para responder a necessidades permanentes do sistema.
Por isso mesmo, este concurso extraordinário, fixando as vagas em 1954, fica muito aquém das
necessidades da escola pública.
O Governo PSD/CDS tomou medidas para diminuir as necessidades das escolas e para destruir milhares
de postos de trabalho. Foi o aumento do número de alunos por turma, foi a reorganização curricular, foi o
encerramento de escolas do 1.º ciclo, foi a criação de mais mega-agrupamentos.
Por isso, fica claro que, mesmo assim, e mesmo tomadas estas medidas, este concurso não resolve o
problema de fundo. E o problema de fundo é que existem milhares de professores na escola pública que estão
a responder a necessidades permanentes do sistema sem terem um vínculo com o Ministério da Educação.
E este concurso em concreto impede que os professores entrem diretamente nos quadros da escola ou do
agrupamento, atirando os professores para as enormes áreas de dezenas e dezenas de quilómetros dos
quadros de zona pedagógica.
Este concurso obriga a que os professores não sejam colocados no escalão e no índice a que têm direito
de acordo com o seu tempo de serviço e coloca-os no primeiro escalão. Se tal não acontecesse, muitos destes
professores teriam de ficar no 4.º, no 5.º ou no 6.º escalão, com a respetiva valorização salarial. Com este
concurso, o Governo quer prolongar o recurso ilegal à precariedade, sem responder ao problema de fundo,
que é a existência de milhares de lugares na escola pública que os professores deveriam integrar com vínculo
ao Ministério da Educação.
Esta proposta não serve, por isso, a escola pública de qualidade para todos. Esta proposta não serve, por
isso, a vida de milhares e milhares de professores no nosso País.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Michael Seufert.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: A
Sr.ª Deputada Rita Rato terminou a apresentação da apreciação parlamentar dizendo que esta proposta de
vinculação de concurso não serve a escola pública. Então, resta perguntar: serve para quê?
Estamos a falar, Srs. Membros do Governo e Srs. Deputados, de um concurso extraordinário por várias
razões: primeiro, porque, habitualmente, nem sequer haveria concurso nesta altura e neste ano; e, segundo,
porque se abre um número de vagas que, ele sim, é verdadeiramente extraordinário face à atividade normal
dos governos nesta matéria. Estamos a falar de 1954 vagas, algo que não tem par em nenhum dos anteriores
e mais recentes concursos.
Este Governo é, por isso, verdadeiramente extraordinário, por um lado, e recordista, por outro, porque,
desde o início da sua tomada de posse até ao próximo dia 1 de setembro, já terá feito entrar 2600 professores
nos quadros do Ministério da Educação. Como tal, Sr. Presidente e Srs. Deputados, e também por ter havido
aqui um acordo de negociação com estruturas sindicais exatamente para garantir que se estabelecessem os
critérios deste contrato nas melhores condições possíveis, desde logo, por exemplo, cumprindo o Orçamento
do Estado, que obriga a que os professores entrem no índice 167 da carreira, algo de que a Sr.ª Deputada
discorda, mas teria de alterar o Orçamento exatamente para dar corpo a essa sua posição, é evidente que
este processo de concurso merece a nossa concordância, tal como merece a nossa discordância a apreciação
parlamentar que o PCP aqui solicitou.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Santa.
O Sr. Agostinho Santa (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Nunca é demais refletir sobre uma
matéria que contende com a afirmação da escola pública como um território vivo suportado por condições de
organização e funcionamento que garantam, em primeira linha, o interesse numa educação e num ensino de
inequívoca qualidade.