12 DE SETEMBRO DE 2014
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Há tribunais que fecham e, depois, há tribunais que funcionam em contentores, porque, afinal, não há
instalações esses tribunais funcionarem. Vemos, nas estações de televisão, os processos judiciais a serem
carregados para camionetas de caixa aberta e efetivos do Exército a transportarem processos de uns tribunais
para os outros. Verificamos que o sistema informático dos tribunais, o Citius, não funciona e que, no dia 1 de
setembro, a última vez que tivemos notícia de que a Sr.ª Ministra se tenha pronunciado sobre esta matéria foi
para dizer que era absolutamente normal, que as grandes mudanças traziam sempre pequenos problemas e
que, daí a umas horas, o problema estaria resolvido; o que nós hoje vemos, passados mais de 10 dias, hoje já
é dia 11, é que o sistema ainda não funciona e não sabemos quando vai funcionar, com todas as
consequências que isso acarreta. Os magistrados e os funcionários judiciais estão parados porque não
conseguem funcionar com o sistema, mas o grande prejuízo é para os cidadãos que veem negado o seu
acesso à justiça, têm os processos atrasados e ainda vamos ver as consequências legais que podem vir a
decorrer desta situação em matéria de decurso de prazos judiciais e eventuais prescrições. Vamos ver o que
se vai passar.
Portanto, há aqui uma total irresponsabilidade por parte do Governo e da Ministra da Justiça que
efetivamente tem de ser apurada e tem de ter consequências.
O que é que podemos dizer de um Governo que insistiu, contra tudo e contra todos, em que a reforma tinha
de entrar em vigor no dia 1 de setembro de 2014, quando toda a gente alertou para o facto de isso não ser
possível. Insistiu contra tudo e contra todos e, agora, colocou o País, colocou a justiça, perante uma situação
destas, que é uma verdadeira vergonha nacional! O que é que se há de dizer de um Governo e de uma
Ministra da Justiça que tem uma atitude destas?!
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): —Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Pita Ameixa.
O Sr. Luís Pita Ameixa (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputados Cecília Honório e António Filipe, começo
por cumprimentar VV Ex.as
e, de algum modo, por corroborar a seguinte ideia: a verdade é que, no dia 1 de
setembro, não entrou em vigor nenhuma reforma do sistema, porque o Governo não foi capaz de o fazer.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Luís Pita Ameixa (PS): — Essa reforma continua por entrar em vigor.
Aplausos do PS.
O Partido Socialista tem mostrado sobre isto uma grande preocupação, porque a grande reforma, a tal
reforma que levou 200 anos a fazer, como se disse, foi feita em 2008. Este Governo apenas introduziu alguns
entorses, que estão a dar o resultado que está à vista e nós procurámos que também houvesse, da parte da
Assembleia da República, um acompanhamento mais próximo. Ainda ontem propusemos, na 1.ª Comissão, a
criação de um grupo de trabalho para acompanhamento desta matéria, ao que o Bloco de Esquerda votou
favoravelmente, o Partido Comunista, na ocasião, não se pôde pronunciar por não estar presente, mas o PSD
e o CDS negaram à Assembleia da República, ao legislador da lei de organização judiciária, que tem
competências para acompanhar este sector, a possibilidade de acompanhar a implementação, o que,
naturalmente, é uma má notícia.
Esta foi uma implementação irresponsável por parte da Ministra da Justiça, avisada de que não era
possível fazer assim — aliás, ela devia até, antes, ter seguido outro caminho —, mas ela impôs essa
concretização e agora não a conseguiu fazer. Este realmente é o maior falhanço que alguma vez teve um
Ministro da Justiça, até podemos dizer que é o pior Ministro da Justiça dos últimos 200 anos! A Sr.ª Ministra
diz que é a melhor reforma dos últimos 200 anos, na, verdade, foi a pior implementação, logo a pior Ministra,
dos últimos 200 anos.
Sr.ª Deputada Cecília Honório, no dia 25, iremos discutir, certamente, propostas de alteração à organização
judiciária, mas há um aspeto fundamental: a defesa dos direitos, dos interesses dos cidadãos. É fundamental
salvaguardar isto.