I SÉRIE — NÚMERO 9
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Mas, Sr. Ministro, o silêncio também tem uma leitura, e a leitura que nós fazemos do seu silêncio é que se
confirma o que temíamos: o Governo nada fez para travar este abuso das companhias de seguro, que
continuam a não suportar os custos dos encargos com o tratamento de acidentes de trabalho e de doenças
profissionais a que estão obrigados. Ficamos a saber que é o Serviço Nacional de Saúde que continua a
suportar custos que deveriam ser suportados pelas companhias de seguro.
Por outro lado, Sr. Ministro, temos milhares de enfermeiros no desemprego e outros tantos a emigrar por
falta de emprego, mas, ao mesmo tempo, há por todo o País falta de profissionais qualificados em todas as
unidades. Não se percebe!
No Hospital Garcia de Orta, ainda recentemente, dois doentes, em estado crítico, tiveram de ficar nas
urgências por falta de vagas na unidade de cuidados intensivos. A falta de enfermeiros levou à redução de oito
para seis enfermeiros na unidade de cuidados intensivos deste Hospital.
No Hospital de São José, há médicos a fazer o dobro dos turnos para evitar a redução de camas nos
cuidados intensivos.
No Francisco de Xavier, o número de enfermeiros de serviço também não chega para garantir a qualidade
em muitos dos turnos. Desde a tomada de posse deste Governo até hoje, o número de enfermeiros nas
urgências deste Hospital passou de 90 para 60.
De uma forma geral, todos os hospitais do País se deparam com a falta de camas nos cuidados intensivos
e, sobretudo, de profissionais qualificados.
O Hospital de Santa Maria da Feira, o Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga, o Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra são apenas alguns dos muitos exemplos que podiam aqui ser dados.
Depois de tudo isto, ainda vem o Governo dizer que continua a trabalhar para melhorar o acesso dos
portugueses aos cuidados de saúde. Isto fez-me lembrar um comentário que o Sr. Ministro uma vez aqui nos
fez, dizendo que fechava serviços para melhorar o acesso aos cuidados de saúde por parte dos portugueses.
Ó Sr. Ministro, isso só dito sob reserva mental!
Aplausos de Os Verdes.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Contrariamente
àquilo que temos assistido hoje aqui da parte do PSD, do CDS e dos membros do Governo, o que o Governo
tem feito não é salvar o Serviço Nacional de Saúde. A política do Governo tem destruído o Serviço Nacional de
Saúde.
De norte a sul do País, o Governo, prosseguindo medidas de governos anteriores, encerrou serviços de
proximidade. Eis alguns exemplos: Extensão de Saúde de Caldelas, no distrito de Braga; Extensão de Saúde
de Vaqueiros, no Algarve. Mas as dificuldades de acesso não se fazem só pelos encerramentos, mas também
pela falta de médicos de família: 1,6 milhões de portugueses não têm médico de família, diz o relatório do
Tribunal de Contas.
O acesso também é dificultado pelo aumento brutal nos custos do acesso à saúde, pelo aumento das taxas
moderadoras, pelas dificuldades na atribuição de transportes não urgentes. São os próprios profissionais de
saúde que reconhecem as dificuldades que os utentes têm em acederem ao Serviço Nacional de Saúde.
Dizem os médicos que os doentes faltam mais às consultas. Num estudo da Ordem dos Médicos, 60% dos
médicos inquiridos referem que muitos doentes, e passo a citar, «abandonam frequentemente a terapêutica
devido à insuficiência financeira».
Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Entre 2010 e 2013, as famílias portuguesas suportaram 28%
das despesas de saúde. As dificuldades no acesso à prestação de cuidados de saúde também se fazem por
falta de profissionais.
Sr. Ministro, faltam profissionais em todas as áreas, especialmente na enfermagem. Faltam cerca de 5000
enfermeiros nos cuidados de saúde primários. Há enfermeiros que têm de assegurar dois e três turnos
seguidos, porque não há quem os substitua. A falta de enfermeiros obrigou o encerramento do Centro de
Saúde de Santa Maria da Graça, em Setúbal. Os enfermeiros estão exaustos, mas lutam, como fizeram
recentemente, Sr. Ministro, e não negue os números da greve.