4 DE OUTUBRO DE 2014
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Quanto ao sucesso dos privados, fala-se, agora, da OPA do Grupo Espírito Santo Saúde. No 1.º semestre
deste ano os seus lucros aumentaram 45% — no 1.º semestre de 2014. É um setor que floresce, ao contrário,
infelizmente, de outros setores bem importantes da nossa economia.
E tudo isto acontece quando os portugueses pagam impostos como nunca pagaram. Pagam mais impostos
e, curiosamente, a despesa das famílias em saúde não para de crescer: 24,8% 26,7%, 28,8% do total da
despesa nos últimos três anos. Isto é também o resultado da política de saúde do Governo.
O Governo retardou a reforma dos cuidados primários. Atrapalhou-se com a reforma e com a rede dos
cuidados continuados e integrados. Aquilo que marca essa rede, a burocracia, mantém-se; aquilo que marca
essa rede é que não há camas onde elas são tão necessárias — Lisboa e Porto —, ficou tudo na mesma.
E quando o Governo refere que o Serviço Nacional de Saúde não foi afetado no seu acesso nem na sua
qualidade, também temos más notícias sobre isso. Sabemos que nem tudo é igualmente importante na saúde
de uma pessoa e se há coisa importante, entre outras, são os cuidados oncológicos. Pois foi nessa área que o
acesso mais sofreu, mais se agravou, mais dificultado está.
Perguntamos ao Sr. Ministro da Saúde, que ainda vai falar, qual foi o investimento público na área da
saúde. Qual foi o investimento? Diga lá o que foi construído de novo, o que existe de novo? Eu digo-lhe: a
única obra que este Governo pode dizer que é da sua responsabilidade são as obras de remodelação do
hospital de Gaia, que, como todos sabemos, foram prometidas há 10, 20, 30 anos. Mas, pronto, é o único
investimento… É muito pouco para quem governa há três anos.
Quanto à qualidade dos cuidados de saúde, há muito sindicadores que não aqueles que, normalmente, o
Governo vai debitando, debitando, debitando…
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Semedo (BE): — Estou a terminar, Sr. Presidente.
No que se refere ao reinternamento resultante de complicações provocadas pela diabetes, em 2009, eram
14,1%; em 2012, duplicaram, são 28,4%. Isto é qualidade e isto é da responsabilidade do Governo.
A reforma hospitalar, de que o Sr. Ministro tanto fala, não existe. Ela traduziu-se na integração e fusão de
hospitais para fechar mais facilmente serviços. Não fizeram mais nada na reforma hospitalar.
Quero terminar com uma palavra de esperança no Serviço Nacional de Saúde, de grande confiança no
Serviço Nacional de Saúde.
Tenho esperança e confio no Serviço Nacional de Saúde porque confio nos seus profissionais, porque
confio na vontade dos portugueses em defender o SNS e porque sei que este é um Governo a prazo e aquilo
que tem feito de mal ao Serviço Nacional de Saúde vai acabar, mais cedo do que tarde.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Paula Santos.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Neste debate, o
PCP trouxe inúmeros casos concretos que ocorrem de norte a sul do País e que demonstram, contrariamente
ao que o Governo afirma, as consequências desastrosas da sua política na saúde das pessoas.
Sr. Ministro, pode dar as voltas que quiser, mas o que aqui trouxemos, infelizmente, não são casos
isolados, são situações sentidas todos os dias pelos utentes. E, confrontado com casos concretos, o Governo
procura desvalorizá-los com propaganda política. Verifica-se um grande incómodo e desconforto do Governo,
quando a evidência ultrapassa o discurso político.
As questões que aqui colocámos permaneceram, sem qualquer resposta por parte deste Governo.
Sr. Presidente, este Governo é responsável pelas crescentes dificuldades dos utentes em aceder aos
cuidados de saúde.
Este Governo é responsável pelo aumento brutal das taxas moderadoras, que constituíram um obstáculo
no acesso à saúde, e pela manutenção das limitações na atribuição de transporte de doentes não urgentes.
Hoje, os utentes pagam cada vez mais para aceder à saúde.