10 DE OUTUBRO DE 2014
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notificação à Comissão Europeia — representa 40 milhões de euros de taxa sobre os sacos de plástico. Essa
é que é a discussão concreta, essa vai onerar o consumidor e, com certeza, prejudicar a economia.
Já se sabe há muito tempo que, em matéria de política ambiental, tudo o que tem a ver com a via
regulamentar, com o investimento, com a intervenção nos preços em mercado, com os incentivos, todas estas
categorias de intervenção são prioritárias em relação à fiscalidade. A fiscalidade não deve ser, à cabeça, a
ferramenta fundamental para a correção de deficiências ambientais e para obter resultados ambientais.
Portanto, neste momento e em concreto, independentemente dessa desculpa muito fraca da notificação à
Comissão Europeia e do enquadramento jurídico europeu — Portugal é, nesse aspeto, dos Estados-membros
aquele que está mais desprotegido, não vale a pena tentar comparar com outros que têm legislação ambiental
bem mais forte — parece bastante óbvio, nestas circunstâncias, que não se vê como não seja sensato proibir
a utilização de embalagens que não sejam biodegradáveis, com certeza de forma faseada, e impedir que haja
embalagens desnecessárias, embalagens secundárias.
Isto parece de óbvio bom senso, só que não permitirá, talvez, a coleta de 40 milhões de euros para tentar
aumentar aquilo que é a receita do Estado e da maioria de direita, através dessa «fiscalidade verde». Bom,
mas há opções a fazer, não é a primeira vez que estas propostas são feitas e estas iniciativas vão no sentido
de uma outra política de ambiente e de uma outra forma de encarar o crescimento verde, não taxando os
consumidores e a economia.
Aplausos do BE.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Até o CDS concorda comigo!
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Idália Serrão.
A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Há pouco mais de um ano,
o Partido Socialista teve a oportunidade de afirmar, perante esta Câmara, a propósito de uma iniciativa
legislativa apresentada pelo Partido Ecologista «Os Verdes» em tudo idêntica à iniciativa que hoje temos aqui
em apreciação, que a política de gestão de resíduos tem sido tema recorrente nos debates parlamentares na
presente Legislatura. Mas tivemos igualmente oportunidade de identificar a forma desarticulada como o
Parlamento tem vindo a refletir, a legislar, no domínio das políticas de resíduos.
De projetos de resolução, localmente muito relevantes, às propostas de lei de caráter estruturante,
desconexa e desfasadamente, a Assembleia da República vai sendo o palco de debates políticos, sem
atender, em muitos casos, às especificidades técnicas, ambientais e sociais das matérias em causa.
Foi por isso que, na intervenção que aqui fiz em fevereiro de 2013, me referi à necessidade urgente de
desenvolvermos uma estratégia que possa servir o nosso País, tendo deixado aqui o repto do Partido
Socialista aos diferentes grupos parlamentares para, em sede de comissão especializada, iniciarmos,
desenvolvermos e aprofundarmos uma reflexão mais vasta sobre as políticas de resíduos, em Portugal — e
fazê-lo até em articulação com o Governo —, iniciativa, até hoje, sem qualquer resultado positivo.
A esta evidência sobrepõe-se a dinâmica da realidade portuguesa. Essa realidade mostra-nos que,
enquanto cada português vai produzindo 514 kg de resíduos por ano, e depois de todo este historial, o
Governo faz aprovar à pressa, por portaria com remissão para um sítio na Internet, o Plano Estratégico para
os Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU), o documento mais estruturante para o setor, e (permitam-me usar
esta expressão) «sem uma palavrinha que fosse a esta Câmara» — e isto, repito, depois de todo este historial.
Mas, enquanto isto, o Governo vende, ao desbarato e sem sentido, um dos maiores ativos de que o País
ainda era possuidor, a Empresa Geral de Fomento (EGF), com sérios prejuízos para os consumidores.
Os parceiros de coligação também não se entendem (também sobre esta matéria) e não se entendem
sobre o valor que se deve pagar pelos sacos de plástico e sobre o impacto que esta eventual receita pode ter
na descida ou não da sobretaxa de IRS.
Mas o Governo também vai inundando o País com compromissos verdes, como se verde fosse essa sua
estratégia para Portugal nas áreas do ambiente.
E é neste quadro que o Partido Ecologista «Os Verdes», que aqui saúdo, vem apresentar um projeto de lei
sobre a redução de resíduos de embalagens em tudo idêntico à iniciativa apresentada há um ano, agora com