I SÉRIE — NÚMERO 30
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Além do irrealismo, há também alguma efabulação que me parece perigosa. A estratégia neoliberal com
que o Governo arrancou o seu mandato falhou, fracassou, foi uma estratégia derrotada. Aliás, quando o
Ministro Vítor Gaspar se demitiu foi o momento em que ele próprio assumiu a derrota, o falecimento dessa
estratégia neoliberal.
Relembrando a frase célebre de Groucho Marx «estes são os meus princípios, mas, se não gostarem,
arranjo outros», o Governo passou agora, ou está a passar, da estratégia neoliberal para uma estratégia
neopopulista. Está em trânsito de uma estratégia neoliberal para uma estratégia neopopulista.
Aplausos do PS.
A sua história sobre «quem não se lixou foi o mexilhão» seria cómica se não fosse trágica: para centenas
de milhares de pessoas que foram forçadas a emigrar; para centenas de milhares de pessoas que perderam o
emprego; para os pensionistas, que viram os descontos de uma vida inteira não servirem para o que
pensavam; para os funcionários públicos, que viram o seu poder de compra destruído; para os idosos
beneficiários do complemento solidário para idosos; para as famílias com crianças, que perderam o
rendimento social de inserção e o abono de família; para os trabalhadores da função pública, atirados agora
para perdas de ordenado em ritmo brutal a pretexto de uma pseudo-requalificação; para milhares de pessoas
que estão nas escolas profissionais, no ensino artístico, no ensino especial e que não têm direito a receber
nada neste momento. Estamos, portanto, nesta situação.
Sr. Primeiro-Ministro, gostava de lhe colocar algumas questões.
Mostro-lhe um gráfico que mostra que o desemprego de longa de duração, do segundo trimestre de 2011
para o terceiro trimestre de 2014, passou de 370 000 para 460 000 desempregados. Ou seja, há mais de 90
000 desempregados há mais de uma ano. Na sua linguagem marítima, ou oceânica, trata-se ou não de
«mexilhão»?
Aplausos do PS.
Mostro-lhe outro gráfico, sobre os inativos desencorajados, em que é possível ver que há mais de 150 000
pessoas desencorajadas que deixaram de procurar emprego. No segundo trimestre de 2011 eram 150 000 e,
agora, no terceiro trimestre de 2014, são 300 000. Na sua linguagem marítima, trata-se ou não de
«mexilhão»?
Mostro-lhe ainda outro gráfico sobre emigração. Em 2011, os emigrantes eram 101 000; em 2012, eram
121 000; em 2013, eram 128 000. Ou seja, 350 000 pessoas abandonaram o País nestes três anos. Na sua
linguagem, trata-se ou não de «mexilhão»?
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Muito bem!
O Sr. Ferro Rodrigues (PS): — Mostro-lhe, também, um gráfico sobre o aumento percentual do IRS, em
que é possível ver que para uma família com dois filhos, que ganhava 1000 € por mês, o aumento, entre 2012
e 2014, foi de 43%. Trata-se ou não de «mexilhão», Sr. Primeiro-Ministro?
Aplausos do PS.
Mostro-lhe outro gráfico, sobre a taxa de risco da pobreza, em que é possível ver que aumentou, entre
2009 e 2011, de 17,9% para 24,7%.
Mostro-lhe ainda outro gráfico sobre a taxa de risco da pobreza infantil, que passou de 22,4% para 30,9%.
Mostro-lhe também um gráfico relativo ao rendimento social de inserção, em que é possível ver que os
beneficiários passaram de 323 000 para 207 000. Ou seja, 116 000 perderam o benefício. É ou não
«mexilhão», Sr. Primeiro-Ministro?
Aplausos do PS.