I SÉRIE — NÚMERO 30
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que, dos cerca de 2,6% ou 2,7% do emprego criado, cerca de 0,9% foi gerado em consequência das políticas
ativas de emprego.
Ora, a primeira coisa que quero concluir desde já, para ver se evitamos outro tipo de conclusões ao longo
deste debate e que seriam dispensáveis, é que o Estado não pode ser criticado por ter políticas ativas de
emprego. Julgo que ninguém na oposição achará que seria melhor que a taxa do desemprego fosse maior e
que o Estado não tivesse políticas ativas de emprego, pois é para isso que elas servem. As políticas ativas de
emprego, por um lado, servem, na conjuntura económica, para suavizar o impacto do desemprego e, por outro
lado, para melhorar, tanto quanto possível, as perspetivas de empregabilidade no futuro daqueles
desempregados.
Se um terço do novo emprego está associado a estas políticas ativas de emprego, estamos a cumprir com
aquilo que se exige do Governo. Penso que é assim, e o Sr. Deputado, com certeza, não discordará disso.
Também quero dizer que os resultados, por exemplo, sobre os estágios, que o Sr. Deputado considerou,
de longe, a pior das ideias relativa às políticas ativas de emprego por serem as mais precárias, as que
permanecem, as que não saem do mau caminho da falha laboral, mostram o contrário do que disse. Nos
estágios profissionais, cerca de 70% das pessoas que os realizam, no fim do período têm garantida a
empregabilidade. Portanto, Sr. Deputado, não sei quem é que tem mais irrealismo nesta matéria.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Isso não é verdade!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Por outro lado, é importante sublinhar, mais uma vez, que não é o Estado que
tem gerado emprego, é o setor privado. E no setor privado o emprego tem sido gerado, no essencial, com
recurso, não à precariedade, mas à ausência de precariedade.
Finalmente, o Sr. Deputado disse que fazemos uma efabulação e depois contou uma história — não leve a
mal que eu a caracterize assim — que não tem grande coisa de novo e que tem sido a retórica que a oposição
tem procurado construir ao longo destes três anos e meio. A oposição diz que há uma espécie de
neoliberalismo horrível e que o Governo arrancou com esse neoliberalismo e falhou. Sr. Deputado, deixe-me
lembrar-lhe que arrancámos com o Memorando de Entendimento que o Partido Socialista negociou com os
credores internacionais. Foi assim que começámos, não foi com nenhum neoliberalismo.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Imagine o Sr. Deputado que até a privatização da TAP a 100%, que o Dr. António Costa tanto critica hoje,
era um dos objetivos inscritos no Memorando de Entendimento. Vela lá o Sr. Deputado onde é que ia ou não o
neoliberalismo.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Diz o Sr. Deputado «bem, mas agora passaram para uma estratégia neopopulista». Também não vejo
onde é que está o neopopulismo, mas se quer dizer que não atendemos, apesar da crise e da emigração, que
também foi sentida noutros países que passaram por problemas como os nossos, embora talvez com maior
intensidade, a uma distribuição equitativa dos sacrifícios, aí, Sr. Deputado, não concordo. E não concordo
porque verificamos que, após transferências públicas — não é antes de transferências públicas —, o índice de
Gini baixa, o que significa, é evidente, não oferece nenhuma dúvida, que as desigualdades não aumentaram.
Aumentou, sim, o risco de pobreza. Nisso concordo com o Sr. Deputado, e já o disse aqui no Parlamento.
Ora, se tivemos o Produto a contrair durante quase três anos, como é que o risco de pobreza não haveria
de aumentar? No entanto, imagine o Sr. Deputado que não aumentou entre os mais idosos. Diminuiu o risco
de pobreza entre os mais idosos, o que não deixa de ser extraordinário e, por outro lado, o que aconteceu foi
que conseguimos resistir com coesão social a este período. Esta é a razão por que não há nenhuma retórica
neopopulista.