I SÉRIE — NÚMERO 34
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Queria aproveitar esta declaração de princípio do Partido Socialista, que não é uma declaração de cálculo
político nem é uma declaração consequencialista utilitarista, é uma declaração de princípio: nós não nos
intrometemos nas eleições gregas.
Sr.ª Deputada, queria dizer-lhe que essas eleições são importantes para a Europa. Nós entendemos que os
gregos devem permanecer na Europa, devem permanecer na moeda única e devem continuar a fazer parte
deste nosso clube europeu. Os gregos escolherão, mas se nós pudéssemos também ter alguma opinião, não
como gregos mas como europeus, é a de que a Grécia faz parte da Europa e falta à Europa.
Queria referir algo que estas eleições também estão a mostrar-nos. Não sabemos se o partido que referiu
na sua intervenção vai ou não ganhar as eleições, não sabemos se vai ou não conseguir formar Governo, não
sabemos se vai ou não ter possibilidade de executar o seu programa ganhando as eleições e formando
Governo, mas há uma coisa que já sabemos: é que basta haver o cheiro do poder para ele próprio começar a
mudar, basta haver o cheiro do poder para que o partido que referiu já tenha enviado emissários à City de
Londres a dizer que não têm de ter medo. Essa notícia veio na comunicação social e não foi desmentida.
Aliás, também não podem desmentir que o próprio líder do partido que referiu, hoje mesmo, publicou um artigo
de opinião num jornal de referência, onde diz que vem para salvar o euro. Tão diferente daquilo que tem sido a
imagem e o discurso que o Bloco de Esquerda tem tido ao nível interno!…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Não é verdade!
O Sr. Vitalino Canas (PS): — Portanto, Sr.ª Deputada, acho que todos nós devemos olhar com atenção
para as eleições europeias,…
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Vitalino Canas (PS): — … porque também podemos perceber que, se calhar, há possibilidade de
partidos à esquerda começarem a ter um discurso de Governo e não apenas um discurso de protesto, de
partidos à esquerda começarem também a evoluir no sentido da responsabilidade e não no sentido de
cavalgar tudo o que cheira a popular.
Sr.ª Deputada, a pergunta que lhe deixo é a seguinte: quando é que o Bloco de Esquerda faz também essa
evolução?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a apalavra o Sr. Deputado José
Ribeiro e Castro.
O Sr. José Ribeiro e Castro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Helena Pinto, estamos de acordo
com a forma como concluiu a sua declaração política: o povo grego decidirá. Quer a Alemanha queira ou não
queira, quer Portugal queira ou não queira, o povo grego decidirá. É evidente.
E não percebi, face aos factos, a quem era dirigida a parte mais violenta da sua declaração política,
porque, de facto, não podemos acusar a Chanceler Angela Merkel de especulações feitas pelo Der Spiegel —
por isso, fiquei na dúvida sobre a quem é que se dirigia. E o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui
Machete, também fez afirmações bastante anódinas e normais de respeito pleno pelo processo democrático
grego. Então, quem seria o alvo? Se calhar, seria o próprio Alexis Tsipras que, como o Deputado Vitalino
Canas acaba de pôr em evidência, não é o mesmo de 2012, não é o mesmo das manifestações em que o
Bloco de Esquerda participou em Atenas.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Bem lembrado!
O Sr. José Ribeiro e Castro (CDS-PP): — E a participação do Bloco de Esquerda nas manifestações em
Atenas era uma pressão sobre o povo grego?