I SÉRIE — NÚMERO 34
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Mas não podemos deixar de aqui dizer que estas afirmações feitas pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros
e pela Chanceler Angela Merkel, estão, de facto, em linha com aquilo que tem sido a política da União
Europeia, com este rumo da integração capitalista da União Europeia, de desrespeito, de manipulação e de
instrumentalização da democracia e dos direitos e das vontades dos povos.
Veja-se o que aconteceu, em 1992, aquando da decisão do povo dinamarquês; ou o que aconteceu na
Irlanda, aquando da decisão do povo irlandês, em 2001; ou o que aconteceu em França; ou o que aconteceu,
em 2005, aquando da decisão do povo holandês!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Bem lembrado!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — É deste rumo que as afirmações do Ministro Machete são reveladoras.
Mas, Sr.ª Deputada, a questão que gostaríamos de lhe colocar é no sentido de saber se o Bloco de
Esquerda considera que a resolução dos problemas com que se confrontam nomeadamente o povo português
e o povo grego, vítimas da política de austeridade, de exploração e de empobrecimento, se a resolução destes
problemas — o problema da dívida, o problema do ataque aos direitos dos trabalhadores e às funções sociais
do Estado — só pode ser conseguida rompendo com a política de direita, com a orientação e o rumo que a
União Europeia está a tomar, com o neoliberalismo, com a centralização do poder no diretório das políticas
das grandes potências europeias, com o tratado orçamental.
Além de colocarmos estas questões, também gostaríamos de perguntar ao Bloco de Esquerda, através da
Sr.ª Deputada Helena Pinto, se considera que, de facto, não será possível uma outra Europa. Mas essa
Europa só será possível se rompermos com esta integração capitalista, se rompermos com este rumo de
afundamento, de exploração e de empobrecimento com que a União Europeia tem brindado os povos,
nomeadamente o povo português e o povo grego.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr. Deputado António Rodrigues,
agradeço as suas questões e os seus comentários, aos quais passo a responder.
Se o Sr. Deputado não levar a mal, vou deixar de parte as suas opiniões sobre as próximas décadas e
sobre se o Bloco de Esquerda ganhará ou não eleições nas próximas décadas, porque eu teria de lhe
responder dizendo que, provavelmente, neste ano, quem vai perder as eleições é o PSD. Em relação a isso já
temos dados mais concretos e indicadores seguros de que essa é uma forte probabilidade, contrariamente ao
que o Sr. Deputado afirma para as próximas décadas. Mas logo se verá. Não é verdade, Sr. Deputado?
Mas deixemos de lado essas coisas da política interna e passemos novamente ao essencial da questão.
O Sr. Deputado começou por dizer que as eleições na Grécia são espoletadas e têm uma consequência
constitucional devido a o Parlamento não ter conseguido eleger o Presidente da República, que não houve
nenhuma crise politica e que, portanto, não é por esse motivo que há eleições.
Isso é verdade, Sr. Deputado, mas também é verdade que a Grécia, nos últimos anos, tem estado em
permanente crise política. O Sr. Deputado não me vai dizer que a situação que se vive na Grécia e que a
relação do Parlamento grego com o governo de Samaras não é uma situação de permanente crise política,
que extravasa, inclusivamente, o próprio Parlamento grego e que sai para as ruas, onde as pessoas se
manifestam quase diariamente, como sabe!
Portanto, crise política existe na Grécia há vários anos, e é exatamente essa crise política, aliada à
profunda crise social que existe no país, que tem feito as contradições estalarem e que tem aberto novos
caminhos, novos rumos e alternativas. É esta a questão de fundo, que faz com que o diretório europeu e
muitos dos partidos que se encaixam nesta lógica desta Europa — e aqui também respondo à Deputada Carla
Cruz — fiquem a tremer, porque, de facto, a Grécia é um sinal de que a mudança é possível. Porque a
mudança tem de começar por qualquer lado, vai começar por qualquer lado, e se começar na Grécia nós
estamos com o povo grego, é preciso dizê-lo.