10 DE JANEIRO DE 2015
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governo o que defenderam na oposição. Tudo isto para acabar com a entidade que defende os pequenos
viticultores e com o benefício. Tudo ao gosto das exportadoras e dos grandes produtores.
É lamentável que o Governo, responsável pela extinção da instituição, tenha tratado tão mal os seus
trabalhadores, «lavando as mãos» do processo. Não houve uma palavra para com os trabalhadores, que se
continuam a dirigir ao seu local de trabalho e os trabalhadores de vínculo público também nada sabem quanto
ao futuro ou à sua recolocação. O seu futuro é uma incógnita e a sua vida está suspensa desde o dia 1.
A pressa na extinção e o desleixo na questão dos trabalhadores fazem com que, hoje, os armazéns, que
guardam 160 milhões de euros do património dos lavradores durienses, estejam sem qualquer trabalhador.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. João Ramos (PCP): — O verdadeiro motivo para a destruição da Casa do Douro é acabar com a
única entidade que pode defender os 30 000 ou 40 000 pequenos viticultores com menos de 1 ha, é eliminar o
último obstáculo ao fim do benefício.
Também o património da Casa do Douro — vinhos e imobiliário — é apetecível.
Este processo, dizia o Governo, era para que a Casa do Douro pagasse as suas dívidas. As dívidas não
estão pagas, mas o concurso para a entrega do património já está em curso. Isto prova que a dívida era o
argumento e não o objetivo da intervenção.
O concurso deveria ser o último recurso se a confirmação da direção ou a eleição da nova direção não se
concretizassem nos prazos previstos. Os procedimentos e os prazos eleitorais não cabiam dentro dos prazos
atribuídos pelo Decreto-Lei e a direção da Casa do Douro solicitou ao Governo que demonstrasse que os
prazos eram exequíveis. O Secretário de Estado da Agricultura admite que eram ambiciosos, mas fixou-os,
apesar de muitas vezes ter dito que o conselho regional não reunia por falta de quórum. Também desafiamos
o Governo a provar que esses prazos eram possíveis.
Se os prazos são impossíveis de cumprir, então o Governo sempre quis fazer o concurso. O prazo de um
mês para as candidaturas deixa pouco espaço de manobra aos interessados, a não ser que estivessem já
previamente preparados.
Por acaso, na região, foi constituída uma federação que andava a ser preparada há um ano e que já se
assumia como candidata a herdar o património, federação que está a ser promovida por um homem que é
também membro da Assembleia Geral da Associação dos Exportadores de Vinho do Porto. A possibilidade de
o património da Casa do Douro e de 60% da representação da produção no conselho interprofissional irem
parar às mãos de parceiros e aliados das grandes casas exportadoras, como a Rozès, a Gran Cruz, a
Sogrape a Smyngton, é grande. A acontecer, é como «meter a raposa no galinheiro».
É escandaloso permitir que as casas exportadoras passem a representar a produção no conselho
interprofissional, é ignorar a história da Região Demarcada do Douro, as lutas e as dificuldades que levaram à
criação da Casa do Douro.
O Governo, a julgar pelo facto de não ter alterado o funcionamento e a composição do conselho
interprofissional, continua a acreditar que é fundamental a paridade entre o comércio e a produção. Se assim é
não pode permitir dúvidas nem confusões.
Por isso, é fundamental dar os prazos adequados para que possa surgir dos associados da Casa do Douro
a herdeira desse património.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Santa.
O Sr. Agostinho Santa (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Pelos
piores motivos, a situação problemática da Casa do Douro e, com ela, a da região do Alto Douro Vinhateiro,
mantém-se bem atual.
É imperioso que se continue a bradar que o resultado da aplicação do Decreto-Lei n.º 152/2014, de 15 de
outubro, que agora se aprecia parlamentarmente, é o da extinção da Casa do Douro, o do assalto ao seu
património, a transferir para uma associação privada posta a concurso, sem se cuidar de garantir, ao menos, o