I SÉRIE — NÚMERO 38
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Os quatro feriados nacionais retirados, quatro dias de trabalho grátis, trabalho não pago, entregue de mão
beijada ao patronato mostram bem as suas opções de classe do Governo contra os trabalhadores e contra os
valores do 25 de Abril.
A posição do PCP pela reposição dos feriados não surge devido a táticas eleitorais. O PCP sempre se
bateu, sem equívocos, pela devolução dos feriados retirados, em geral, e dos feriados abolidos, em particular,
correspondendo às reivindicações dos trabalhadores e da sociedade portuguesa.
O projeto de lei que o PCP apresenta visa repor os quatro feriados nacionais retirados, reconhecendo a sua
importância histórica e cultural, com particular realce para os dias da Implantação da República e da
Restauração da Independência, cuja eliminação colide com a cultura e a história do povo português.
O PCP propõe, ainda, a consagração da Terça-feira de Carnaval como feriado obrigatório, apoiada numa
prática secular da sua comemoração por todo o território nacional, garantindo que a sua comemoração não
fica dependente de decisão do Governo.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para apresentar o projeto de lei do PS, tem agora a palavra o Sr. Deputado Alberto
Costa.
O Sr. Alberto Costa (PS): — Sr.a Presidente, Sr.
as e Srs. Deputados: Portugal não pode continuar a ser o
único Estado-membro da União Europeia que, tendo assinalado a sua independência, ou a recuperação dela,
com um feriado, o aboliu. Nem queremos ser por mais tempo uma República que elimina nas suas leis —
como nunca a ditadura o fez — o feriado obrigatório consagrado à sua própria instauração.
O Sr. Ferro Rodrigues (PS): — Muito bem!
O Sr. Alberto Costa (PS): — Esse foi um mau momento, a que não estávamos obrigados pelo Memorando
de 2011.
O Sr. Mota Andrade (PS): — Bem lembrado!
O Sr. Alberto Costa (PS): — A opção de suprimir os feriados obrigatórios do 1.º de Dezembro e do 5 de
Outubro virá a ser lembrada, não pelos efeitos invocados pelos seus autores, mas como um desses momentos
insólitos em que a dignidade, a identidade, a memória e a autoestima são preteridas às mãos de
argumentários ideológicos e de alegações pseudo-factuais.
O Sr. Ferro Rodrigues (PS): — Muito bem!
O Sr. Alberto Costa (PS): — Afinal, Portugal não era o País da União Europeia com maior número de
feriados, como o Governo dizia, e países muito competitivos tinham tantos ou mais feriados do que Portugal.
O 1.º de Dezembro e o 5 de Outubro foram sempre respeitados, como feriados, desde 1910,
independentemente dos regimes políticos e de todos os condicionamentos atravessados.
Nós não conseguimos imaginar os países que admiramos a desrespeitar e a suprimir os feriados
obrigatórios consagrados à sua existência independente, à sua República ou à sua democracia.
Como pode fazer isso sentido connosco, num país cuja Constituição consagra a forma republicana de
Governo como limite material da revisão constitucional?
Poucos dias depois da Revolução de 1910, a República criou o feriado do 1.º de Dezembro como «dia
consagrado à autonomia da pátria» — uma consagração que não perdeu valor, antes pelo contrário.
Sendo nós hoje um Estado-membro de uma União, se não cultivarmos e preservarmos esse valor, seremos
mais frágeis diante do risco de uma evolução em direção a uma espécie de região administrativa especial,
com o número de feriados periodicamente reduzido e normalizado, em obediência a um poder central.
Uma Nação que favoreça o esquecimento e a indiferença em torno da sua origem e das grandes
conquistas do seu passado põe em dificuldade, a prazo, a sua autonomia e o seu futuro.