14 DE FEVEREIRO DE 2015
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A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Ministro, quem quer descentralizar não obriga as autarquias a assumir
responsabilidades de gestão de museus nacionais, desconsiderando a impossibilidade de assegurar a
salvaguarda, a valorização e o estudo do património numa perspetiva científica orientada para o
aprofundamento do conhecimento.
O Governo não quer descentralizar, quer, sim, desresponsabilizar-se das suas competências na garantia
de uma escola pública de qualidade para todos e do acesso generalizado à cultura.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Luís
Fazenda.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, confirmo pela leitura do Decreto-Lei n.º 30/2015,
que 25% do pessoal docente será recrutado de acordo com projetos específicos de base local. Portanto, caem
por terra todas as promessas que o Governo tem vindo a fazer de que não haverá pessoal docente contratado
diretamente pelas escolas ou pelos municípios.
No artigo 4.º, n.º 2, fala-se no incentivo à diminuição da despesa, mas o Sr. Ministro não respondeu ainda à
pergunta no sentido de saber como é que se garante a programação de investimentos na oferta da rede
pública que venha a ser contratualizada.
A questão de fundo é a seguinte: o próprio Decreto-Lei, ontem publicado, sobre descentralização de
competências para algumas autarquias locais, através destes contratos interadministrativos, faz referência ao
chamado «guião da reforma do Estado», esse documento que não é apócrifo, é de Paulo Portas e foi tão
incensado pelo Governo!
No que se refere à descentralização para a área da educação, tem lá aquilo que, na altura, se chamava a
concessão aos municípios de escolas — presumo ser este processo que o Governo agora apresenta para
projetos-piloto —, mas tinha uma continuidade no guião da reforma do Estado, que era a criação das
chamadas «escolas independentes», que mais não eram do que a privatização de escolas.
Chegados aqui, queria perguntar ao Sr. Ministro — e pedia uma resposta do Sr. Ministro — se, de facto,
este modelo do contrato interadministrativo para a chamada «concessão municipal das escolas», como se
dizia no guião da reforma do Estado, não é a antecâmara das tais escolas independentes, ou seja, da
privatização de escolas da rede pública.
Essa é a pergunta e ela merece uma resposta. Ou, então, teremos de concluir que o guião da reforma do
Estado não tem papel nenhum neste processo de descentralização de competências. Há aqui uma questão de
unidade política, há aqui uma questão de vetor e de responsabilidade da parte do Governo.
O que é que conta do guião da reforma do Estado? O que é que foi vertido para este Decreto-Lei da
descentralização de competências?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro Adjunto e do
Desenvolvimento Regional.
O Sr. Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional: — Sr. Presidente, permitam-me que comece
por fazer um comentário geral, que também abrange aquilo que o Sr. Deputado Luís Fazenda acabou de
mencionar.
Já deu para perceber que o grande consenso sobre descentralização encontra como obstáculos oposições
que não conseguem concretizar o ponto específico com o qual estão em desacordo. Em vez disso, ou
solicitam mais estudos, mais tempo, mais debate, ou, então, procuram transportar o debate para questões que
não têm nada a ver com aquilo que está aqui em discussão.
Não há qualquer privatização, não há qualquer modelo desse tipo que esteja em causa. Sr. Deputado, o
Governo responde por aquilo que se propõe fazer e estamos aqui para discutir aquilo que está em causa.