5 DE MARÇO DE 2015
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O Sr. Presidente: — Inscreveram-se cinco Srs. Deputados para pedir esclarecimentos ao Sr. Secretário de
Estado, pelo que informará a Mesa se quer responder individualmente ou em conjunto.
Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, esta proposta,
como mais à frente demonstraremos, vem evidenciar, de facto, a matriz ideológica do Governo e a
consagração da doutrina que os senhores defendem, não do Estado regulador mas do Estado desregulador,
Sr. Secretário de Estado.
Aquilo que os senhores pretendem fazer com esta proposta é colocar o sector, de norte a sul do País, de
pantanas, num quadro de incerteza, de indefinição e de precariedade absoluta, e precariedade não apenas
para os trabalhadores mas também para os utentes e para as próprias empresas que estão a operar e têm
atividade no setor.
Aliás, importa aqui sublinhar o caráter instrumental dos regimes extraordinários e transitórios na estratégia
do Governo para a privatização do sector. Veja-se o caso do transporte fluvial, ou seja, a privatização do
transporte na Transtejo e na Soflusa, e na ferrovia, com as linhas suburbanas que os senhores deixam de
parte para ir tratando dos negócios, à medida que vão avançando.
Entretanto, assumiu agora o Sr. Secretário de Estado o compromisso de, no prazo de seis meses —
presume-me que após a entrada em vigor da lei que os senhores querem aprovar —, negociarem, assumindo
os contratos interadministrativos com o poder local.
Mas daqui a seis meses os senhores ainda cá estão? Têm a certeza, Sr. Secretário de Estado? O mandato
do Governo chega até lá? Se calhar, não! Importa ter em conta, quanto à própria consulta pública que o
senhor mencionou, que não conhecemos os pareceres, porque a Assembleia não os recebeu. A Assembleia
não pode acolher reflexões e contributos que o senhor diz que houve mas que ninguém viu. E, como tal,
estamos perante uma situação lamentável para a própria transparência e clareza do processo democrático.
Por fim, Sr. Secretário de Estado, para terminar, faço uma pergunta muito concreto sobre o papel do sector
do táxi neste regime. Afinal, em que é que ficamos? É que esta proposta pretende enquadrar atividades que
são integrantes do serviço de transporte, como é o cado do chamado transporte flexível, num diploma em que
o sector do táxi é, pura e simplesmente, excluído. É excluído da proposta, é excluído do regime.
Portanto, queremos saber qual é, afinal, o papel que os senhores atribuem ao sector do táxi neste regime,
do qual acabam por excluí-lo.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado Sérgio Monteiro, esta proposta
de lei apresentada pelo Governo é, de facto, uma última peça de um puzzle que visa a privatização do sector
dos transportes. Não há dúvida sobre essa matéria.
Todo este diploma tem uma chancela, está carimbado de cima abaixo e diz «negócio», que é exatamente o
que o Governo quer fazer.
É curioso que ele chega também com uma emergência, porque é aquela peça do puzzle que o Governo
sabe que está em falta para fazer a privatização da STCP, da Carris e da Metro de Lisboa. Por isso, aqui está
este regime jurídico.
Não é novidade que tenhamos isto neste contexto, com esta urgência. É que o verdadeiro objetivo que o
Governo sempre teve para os transportes foi a privatização, atirando para os privados aquilo que devia ser
responsabilidade do Estado.
Mais: está a fazer isso agora, na vertente contrarrelógio, já vê o tempo a acabar e quer, à pressa, colocar
em cima da mesa a privatização, custe o que custar, até mesmo criando exceções neste regime jurídico. Veja-
se bem o que é que acontece: há um conjunto de concessões que podem ser determinadas depois dos 60
dias, mas há uma vertente que é para hoje. Qual? A da STCP e do Metro do Porto. É que no dia a seguir ao