7 DE MARÇO DE 2015
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Nações Unidas, através da qual Portugal assumiu o compromisso de elevar o enriquecimento ilícito a crime,
mereceu a concordância de todas as bancadas deste Plenário.
Vamos, portanto, esperar que os projetos de lei hoje em discussão sobre esta matéria tenham o mesmo
desfecho.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Como tive oportunidade de referir no início desta intervenção, no
conjunto dos projetos de lei que agora discutimos, Os Verdes pretendem destacar também a importância que,
a nosso ver, assumem as iniciativas que procuram reforçar o combate à criminalidade económica e financeira
através dos centros offshore. Na verdade, os offshore são a imagem da injustiça no sistema: enquanto uns
poucos vivem em paraísos fiscais, a maioria das pessoas vive num verdadeiro e penoso inferno fiscal.
Mas, para além desta imoralidade e injustiça, os paraísos fiscais apenas servem para os grandes grupos
económicos e as grandes fortunas criarem mecanismos altamente elaborados para fugir aos impostos ou para
proceder ao branqueamento de capitais.
Bem sabemos que um Governo não pode, por si, impor o fim dos paraísos fiscais fora das suas fronteiras.
Mas também sabemos que qualquer Governo pode e deveria ter a obrigação de canalizar esforços, junto dos
restantes Estados e das organizações internacionais de que faz parte, para procurar medidas e encontrar
soluções no sentido de acabar com os paraísos fiscais.
Não faz qualquer sentido que haja no planeta zonas absolutamente intocáveis, zonas onde a supervisão
financeira não entra, onde a cooperação judicial fica à porta e onde os próprios Estados preferem fingir que
não existem ou, então, que está tudo bem, que faz parte do sistema, que é assim, e pronto. Não pode ser.
Nem faz sentido, nem os cidadãos compreendem, como é que um simples contribuinte que se esquece das
suas obrigações fiscais ou que não sabia que tinha de as pagar, neste caso, como a ignorância da lei a
ninguém aproveita, é perseguido pelo Estado, e a nosso ver bem, mas, quando se trata da grande
criminalidade fiscal, os Estados fingem que nada se passa.
Não pode ser, tem de haver formas de pôr fim a este verdadeiro e monstruoso pecado com perdão
consentido.
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Para tal, haja vontade e coragem política, porque o combate à
corrupção também passa por aqui. Também tem de passar pelos paraísos fiscais, porque nada deve ficar de
fora neste combate.
Para terminar, Sr.as
e Srs. Deputados, quero dizer apenas que Os Verdes consideram que todas as
contribuições que, de uma forma ou de outra, potenciem e reforcem a eficácia no combate à corrupção são
sempre bem-vindas, mas também é necessário que respeitem as respetivas garantias constitucionais, tanto a
nível penal, como a nível processual penal, o que, a nosso ver, sucede nos projetos hoje em discussão, ainda
que haja, como referi, algumas reservas relativamente ao projeto de lei do PSD/CDS.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do Sr. Deputado Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: É já um lugar-comum
dizer-se que as democracias liberais — e é destas que estamos a tratar — passam por uma situação de
doença e que essa doença exige remédio na própria democracia. E há sintomas evidentes dessa doença nas
democracias liberais, vulgo, europeias.
Têm a ver com a desconfiança generalizada dos cidadãos nos sistemas de justiça, lentos, pouco eficazes
na repressão criminal, classistas no acesso e na defesa em tribunal. Têm a ver com a desconfiança muito
generalizada dos cidadãos em governos que promovem políticas de desigualdade e de austeridade. Têm a ver
com a desconfiança dos cidadãos em parlamentos com poderes cada vez mais diminuídos. Têm a ver com o
excesso de publicitação dos parlamentos, como montras da democracia, na imensa exiguidade da sua
capacidade de intervenção. Tudo isto tem vindo a minar a confiança nas democracias liberais.